Mecânica, versão negra

2012
Flávia Ribeiro
publicado em 26.05.2013
última atualização 07.01.2015

"Os primeiros pensamentos e experimentações que me levaram à Mecânica surgiram em 1992, quando passei um ano em residência artística, em Londres. Nesse período iniciei uma série de trabalhos com papel de seda.

As qualidades desse papel e o acaso vieram ao encontro dos meus interesses naquele momento. Ao prender à parede, em dois...


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"Os primeiros pensamentos e experimentações que me levaram à Mecânica surgiram em 1992, quando passei um ano em residência artística, em Londres. Nesse período iniciei uma série de trabalhos com papel de seda.

As qualidades desse papel e o acaso vieram ao encontro dos meus interesses naquele momento. Ao prender à parede, em dois pontos da borda superior, papéis de seda revestidos com pó de bronze não levei em conta a existência do equipamento de calefação instalado logo abaixo. Em pleno inverno, o aquecedor era acionado e, com o ar quente, os papéis começavam a se deslocar e projetar no espaço. Mesmo sem realizar efetivamente o que viria a ser Mecânica, pensei então em dar o título daquele trabalho de Mecânica dos Anjos. Creio que também por causa das leituras de Santo Agostinho que fazia na ocasião.

Desde os anos 1980 tive como questão o limite da passagem do bi ao tridimensional. Após observar que um deslocamento de ar provoca a projeção dos papéis no espaço realizei algumas séries como Frágeis (1995) e Corpos Associados (1997). Estas séries eram compostas por folhas duplas de papel de seda onde a folha da frente continha desenho com pó de bronze, e a folha de trás, um desenho com nanquim. Em movimentos e projeções no espaço os papéis se distanciavam um do outro, alterando o foco dos desenhos em nanquim.

Ao observar o público e a reação dos papéis quando expostos, fui me interessando cada vez mais pela forma como apontavam para relações do corpo no espaço; de um corpo com outro corpo.

Dezenove anos após aqueles primeiros experimentos em Londres, acabei propondo uma versão dourada de Mecânica para o Projeto Parede no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP). A parede que delimita uma passagem no museu parecia ser um lugar propício para a instalação dessa obra. Nesse momento, ficou claro que somente cores impressas em ambos os lados dos papéis seriam suficientes para trazer de forma direta o conceito de mecânica (associada ao movimento de corpos quando submetidos a algum tipo de força). Dessa forma, o suporte passa a ser elemento constitutivo da obra, tornado objeto.

Mecânica é um trabalho que procura apontar indiretamente às relações do corpo no espaço e do corpo com outros corpos. É o público em movimento, e de passagem, que aciona a obra. Um livro de artista (2011-2012), homônimo, trata das mesmas questões, mas em escala menor, pois o deslocamento do ar que projeta as folhas douradas inseridas no livro é produzido apenas pela ação da mão ao virar as páginas. A manipulação do livro aciona a obra. Por causa da impossibilidade de manipulação do livro pelo público, acabei realizando também um vídeo que abriu novas possibilidades para o meu trabalho. Essa série de pequenos vídeos está em processo nesse momento."


Flávia Ribeiro em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)


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Dados técnicos

Mecânica, versão negra (2012/2013) | Flávia Ribeiro
Instalação | Serigrafia s/papel-manteiga, dimensões variáveis

Detalhes da obra e de sua instalação no espaço expositivo do 18º Festival de Arte Contemporânea SESC_Videobrasil

Depoimento Flávia Ribeiro | 18º Festival

A artista descreve as duas versões da obra Mecânica, com as quais participa do 18º Festival

Ações VB
18º Festival
Anexos

Do caráter dos rios que correm, por Lígia Afonso (mai. 2011) [pt]

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