Sunday Best

2014
Haroon Gunn-Salie
publicado em 02.10.2015
última atualização 14.10.2015

Sunday best trata de um momento histórico e contemporâneo. O trabalho é único no sentido de que representa a perspectiva de inúmeras pessoas que vivem na pobreza no mundo todo e a presença de espírito e o orgulho em todos nós que luta para superar a marginalização e tornar possível um mundo diferente.

A obra foi...


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Sunday best trata de um momento histórico e contemporâneo. O trabalho é único no sentido de que representa a perspectiva de inúmeras pessoas que vivem na pobreza no mundo todo e a presença de espírito e o orgulho em todos nós que luta para superar a marginalização e tornar possível um mundo diferente.

A obra foi resultado de um longo projeto de pesquisa na Escola Michaelis de Belas Artes da Universidade da Cidade do Cabo. O projeto, que se iniciou em 2011, consiste em uma série de esculturas sociais e intervenções site-specific.

Tematicamente, o trabalho lida com questões ainda não resolvidas relativas a remoções forçadas e reintegrações de posse no bairro District Six e no restante da África do Sul. O District Six era uma comunidade unida, animada e multicultural no centro da Cidade do Cabo, no sopé da Montanha da Mesa, que foi removida à força no final da década de sessenta por um decreto do Apartheid para dar lugar a brancos. Os moradores foram jogados em insípidas cidades-dormitórios racialmente segregadas, nas areias desertas de Cape Flats, cidades essas que rapidamente entraram em decadência, tornando-se bolsões de pobreza infestados pelo álcool e as drogas.

Sunday best foi conceitualizado em conversas e entrevistas com a Srta. Susan Lewis. Decidimos criar uma escultura que retratasse as caminhadas que ela fazia aos domingos até o parque Company’s Garden, no centro de Cape Town. A utilização de espaços públicos no centro da cidade chegou ao fim quando a família da Srta. Lewis e mais de 60 mil pessoas foram retiradas à força do District Six.

A obra em bronze consiste em uma figura fantasmagórica com um vestido azul-marinho imaculadamente confeccionado. A escultura está numa postura elegante, quase como que em movimento. O vestido, uma peça de roupa que remete ao orgulho e à habilidade dos artesãos locais, é um lembrete da injustiça das leis de divisão racial do Apartheid que tiraram as casas das pessoas. E da indignidade que as pessoas sofreram quando as áreas que chamavam de lar foram reservadas exclusivamente aos brancos.

Este trabalho foi concebido por meio de um processo de diálogo inter-relacional que traduziu em arte diversas entrevistas e discussões. Trata-se de uma metodologia de combinar história oral e fazer artístico com o objetivo final de levar os participantes a uma catarse e criar obras que sejam lembretes do processo e receptáculos de experiências de vida numa forma que transcende a linguagem e as barreiras socioculturais.

Vejo minha prática como algo em constante evolução e encaro as exposições como um modo de criar instalações interativas, baseadas em experiências, bem como intervenções sociais. Ao invés de criar obras de arte concluídas, considero que sempre preciso desenvolvê-las mais.

Sunday best, por exemplo, foi criado como um vestido de tecido usando molde de gesso para a exposição WITNESS, em 2012, e desenvolveu-se até chegar à forma atual, quando moldei o vestido em bronze para uma exposição individual em 2014, solidificando a história e sua forma num memorial itinerante. Já aprofundei e continuarei aprofundando este trabalho, em projetos, exposições e intervenções sociais futuras e em andamento, uma vez que a obra tem a capacidade de atravessar fronteiras sociais. O fantasma da figura que usa o vestido é uma referência ao deslocamento. É também um pedido de continuidade de um processo de reconciliação incompleto para que o passado seja abordado plenamente. A universalidade e a simplicidade do trabalho contribuem para que sua mensagem transcenda a linguagem e o contexto.”


Haroon Gunn-Salie  em depoimento à PLATAFORMA:VB (julho 2015)


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Dados técnicos

Sunday Best, 2014. Da série Witness | Escultura
Haroon Gunn-Salie

Zonnebloem renamed District Six (2013) | Haroon Gunn-Salie
 

Obra site-specific Zonnebloem Renamed na qual o artista alterou com letras de vinil as placas das estradas com os dizeres ‘Zonnebloem’ para que se lesse no lugar ‘District Six’

Ações VB
19º Festival
Outras conexões

“A obra olha para os campos das ciências sociais do desenvolvimento da comunidade e dos jovens, bem como para o trabalho de base e o ativismo, do ponto de vista de sua concepção.

Sunday best foi apresentado na exposição site-specific WITNESS, situada num sobrado abandonado na periferia do District Six que foi transformado por um dia para abrigar uma série de instalações e intervenções. Cada um dos trabalhos apresentados assume uma metodologia prática colaborativa baseada no diálogo.  

Prosseguindo e aprofundando meu trabalho com moradores do District Six, realizei uma continuação da exposição em uma das novas casas durante a segunda fase da reformulação do District Six em 2013. A região para onde as pessoas foram enviadas foi rebatizada como ‘Zonnebloem’ (girassol) na década de 1960, que ainda é seu nome oficial, como forma de eliminar sua história permanentemente. Por isso, encenei a obra site-specific Zonnebloem Renamed, na qual alterei as placas de rua de ‘Zonnebloem’ para ‘District Six’ usando letras de vinil. O efeito deste projeto é que todas as 13 placas ainda estão lá, dois anos depois”. 


Entrevistas com o artista:
Young South Africa: Haroon Gunn-Salie | It’s Time to Tell a New Story, entrevistado por Jessica Hunkin (Between 10and5, jun. 2015). [eng]


89plus | Haroon Gunn-Salie, entrevistado por Missla Libsekal (Another Africa.net, Mar. 2014). [eng]

Anexos

In the viewing room, exposição de Haroon na Goodman Gallery Johannesburg (fev. 2014). [eng]

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