Dogma Laico

Roberto Borges, Heloisa Vivanco, Liria Tamura, Gabriel Novaes
publicado em 29.05.2017
última atualização 29.05.2017

“Os dogmas mais nocivos nem sequer são os que como tal foram expressamente enunciados, como é o caso dos dogmas religiosos, porque estes apelam à fé, e a fé não sabe nem pode discutir-se a si mesma. O mal é que se tenha transformado em dogma laico o que, por sua própria natureza, nunca aspirou a tal.”

José Saramago, O Caderno (2009)

Quais são os alicerces das nossas convicções?

Em tempos que...


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“Os dogmas mais nocivos nem sequer são os que como tal foram expressamente enunciados, como é o caso dos dogmas religiosos, porque estes apelam à fé, e a fé não sabe nem pode discutir-se a si mesma. O mal é que se tenha transformado em dogma laico o que, por sua própria natureza, nunca aspirou a tal.”

José Saramago, O Caderno (2009)

 

Quais são os alicerces das nossas convicções?

 

Em tempos que novas verdades são cristalizadas nos feeds das redes sociais, que “coxinhas” e “petralhas” esbravejam palavras de ordem sem fontes seguras de informação, torna-se necessária uma reflexão sobre as bases do pensamento do homem contemporâneo.

 

A velocidade da troca de informação em tempos hipermodernos e a mudança da forma de relacionamento entre pessoas em um mundo extremamente digitalizado reacende a questão da dogmatização de pensamentos e ideologias como ferramenta de persuasão, que cedem espaço a extremismos políticos e religiosos.

 

A busca pelo sentido da vida é inerente ao ser humano, espírito e matéria convivem em harmonia e conflito, o que levou ao surgimento de diversas doutrinas e seitas, e ao aparecimento de dogmas que fundamentam a fé das principais religiões do planeta.

 

O que leva o homem a ter suas crenças como verdade? Questionar verdades absolutas não é tarefa fácil. Através do nosso recorte do acervo da Associação Cultural Videobrasil, pretendemos colocar em debate os caminhos que levam à transformação de uma ideia em dogma.

 

A mostra foi estruturada em quatro obras: Conversation Piece, de Gabriela Golder; Bayak (The Flag), de Köken Ergun; Ghost Looking For Its Spirit, de Slinko; e Lucharémos Hasta Anular La Ley, de Sebastián Diaz Morales. Os três primeiros vídeos, da forma como os dispusemos, apresentam uma narrativa crescente sobre o processo de doutrinação ideológica, que parte de uma inocente conversa entre uma avó e suas netas, passando por uma comemoração populista do dia das crianças na Turquia e culmina em uma crise ideológica bem humorada de uma artista russa radicada nos EUA. Em contraponto, no final, deixamos aberta para o público a reflexão da dogmatização das ideias e seus efeitos diretos nas instituições e na sociedade.

 

José Saramago, no texto intitulado Dogmas, do livro O caderno (2009), afirma que "Marx, por exemplo, não dogmatizou, mas logo não faltaram pseudo-marxistas para converter O Capital em outra bíblia, trocando o pensamento activo pela glosa estéril ou pela interpretação viciosa".

 

Seja na filosofia, na política, nos esportes, na moda ou na cultura pop, o conhecimento não deve ser vestido como uma ideologia cega.

 

E Saramago finaliza com o que chama de pergunta fundamental: "por que penso como penso?".

 

Este é o questionamento que pretendemos despertar.

 

Mapeamento realizado por Heloisa Vivanco, Gabriel Novaes, Liria Tamura e Roberto Borges  como resultado de curadoria realizada por alunos da Pós-graduação de Especialização em Arte: Crítica e Curadoria da PUC-SP a partir das obras do Acervo, sob orientação dos professores Cauê Alves e Priscila Arantes. (Abril de 2017)

 


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Outras conexões

A psique de coxinhas e petralhas, Folha de S.Paulo (2017) [port]

 

Os Tempos Hipermodernos, de Gilles Lipovetsky

 

O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de José Saramago

 

A Estetização do Mundo, de Gilles Lipovetsky

 

O Caderno, de José Saramago (2009)

 

Tags
política; religiosidade; ideologia; nacionalismo;
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