“Escultura do Inconsciente é um trabalho à longo prazo, iniciado em 2006 e sem data para terminar.
Atualmente o projeto possui mais de 60 imagens concluídas e realizadas em pesquisas diferentes. As imagens #02, #04 e #32, selecionadas para a exposição Panoramas do Sul (2013), foram realizadas a partir de um mesmo processo: caminhar pela cidade a pé, sem destino.
O avanço tecnológico dos meios de comunicação e a popularização do acesso ao transporte privado, nos tira a possibilidade e o interesse de observar detalhadamente a cidade em que vivemos. O ritmo acelerado da vida urbana nos impede de pararmos para pensar sobre o que nos cerca, o mundo ao qual pertencemos e que rumo ele esta tomando. E eu acho isso importante.
Embora fotografe aspectos físicos das paisagens urbanas, o maior interesse do trabalho é captar a passagem do tempo. A passagem a qual me refiro não é aquela do ontem para o hoje; é mesmo anterior ao período modernista, revelada no projeto por meio de uma mistura de vestígios de diferentes épocas nas paisagens arquitetônicas. Esse trabalho capta o hoje no fluxo do tempo, e o hoje é o eixo central da minha criação.
Se estou fotografando o aspecto real e atual da cidade é sempre através de uma imaginação fictícia do passado e do futuro.
Uma das mais importantes referências do projeto Escultura do Inconsciente é a cenografia do filme Metrópolis (1927) de Fritz Lang.
Embora a cenografia desse filme tenha um aspecto fictício, vejo semelhanças entre ela e as imagens do centro de São Paulo na década de 1920. Nesse período, a cidade ainda usufruia da riqueza obtida com cafeicultura. Foi então que o edifício Martinelli e o edifício Altino Arantes (Banespa) foram construídos. Sabe-se que os urbanistas e arquitetos da época sonhavam com a construção de uma metrópole idealizada com base na urbanização europeia.
Em um dos trechos do ensaio Hojo-ki, escrito em 1212, o poeta japonês Kamo no Chomei afirma:
'Embora o rio nunca deixe de correr, a água que passa, momento a momento, nunca é a mesma. Nos lugares onde a correnteza se acumula, bolhas formam-se na superfície, estourando e desaparecendo, e outras surgem para tomar seu lugar, mas nenhuma dura muito. Neste mundo, as pessoas e os lugares onde elas vivem estão assim, sempre mudando.'
[The Hojoki (My Ten-foot Hut): 1]"
Tatewaki Nio em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)