Hachuras em movimento

2010
Tales Bedeschi
publicado em 28.07.2013
última atualização 18.12.2014

"Hachuras em movimento surgiu de um processo diário e despretensioso de observação dos desenhos formados no chão pelas sombras de portões, objetos, árvores, cobogós... Desenhos incríveis, quase nunca reparados, que se transformam ao longo do dia. Um motivo que era despretensioso, todavia, foi ganhando importância...


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"Hachuras em movimento surgiu de um processo diário e despretensioso de observação dos desenhos formados no chão pelas sombras de portões, objetos, árvores, cobogós... Desenhos incríveis, quase nunca reparados, que se transformam ao longo do dia. Um motivo que era despretensioso, todavia, foi ganhando importância estética. De repente, percebi que uma série de locais da cidade haviam se transformado em pontos do meu interesse. 

A obra busca intervir na função de algo, interromper a atenção do indivíduo que passa, por meio da inscrição de um elemento extraordinário em um contexto ordinário. Essa intervenção consiste em uma operação muito simples: duplicar uma sombra. Trata-se do registro do grafismo da sombra da grade do viaduto, em um certo momento do dia. 

Os minutos passam, a sombra se desloca, a pintura aparece e as linhas paralelas vão se transformando em hachuras. Ao abandonar o registro da marca no chão, percebe-se que não existe inércia no mundo: ao contrário, a vida pulsa, o mundo é permanente movimento, tudo é tempo. É como se o gesto artístico usasse o movimento do planeta a seu favor, para dar vida à obra. 

O aspecto político desse trabalho emerge da inversão das possibilidades, da transformação da função e da visibilidade de algo ou de alguém. Nesse sentido, a sombra se transforma em linha, o chão em um plano de acontecimentos plásticos, e o transeunte em espectador. Trata-se de pensar que a política da arte atua 'no sensível da cidade, em seu horizonte de possibilidades, nas condições que tornam possíveis esta ou aquela imagem, este ou aquele enunciado', como afirma André Brasil. Pensa-se a cidade como domínio da descoberta, do extraordinário; a rua como um campo de acontecimentos sensoriais e não apenas um meio de passagem." 
 

Tales Bedeschi ​em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)


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Dados técnicos

Hachuras em movimento, da série Linha curva da Terra (2010) | Tales Bedeschi
Fotografia | 9 imagens, impressão em papel Hahnemuhle PhotoRag 308 g, 40 × 60 cm cada

Detalhes da instalação da obra no espaço expositivo do 18º Festival de Arte Contemporânea SESC_Videobrasil

Depoimento Tales Bedeschi | 18º Festival

As relações entre intervenção urbana e espaços institucionais da arte são o tema do depoimento do artista mineiro, que participa do 18º Festival

Ações VB
18º Festival
A Cidade Como Meio
Outras conexões

“Minha poética parte da gravura e se projeta em linguagens como a fotografia e o vídeo. Ela está ligada a temas abordados pelos filósofos Walter Benjamin, em A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica (1955), e Jacques Rancière, em O espectador emancipado (2004-2008) e A partilha do sensível: Estética e Política (2010)”. 


“Certa vez, o artista Efrain de Almeida mostrou, na televisão, um novo trabalho: mariposas feitas em madeira. Suas operações remetiam a estratégias ligadas a uma sutileza especial, um ‘quase’, um ‘mínimo’, um ‘infra-mince’, como no conceito elaborado por Marcel Duchamp. Esculpir com madeira o que imita a madeira significa elevar ao quadrado a potência ‘infra-mince’. Almeida se vale da estratégia de camuflagem das mariposas e opera uma inversão ficcional. Sua arte ajuda o ser humano a ver o mundo e a reconhecer o extraordinário no natural e no ordinário. Hachuras em movimento partilha dessa pretensão: ficcionalizar o comum, lançando uma nova luz sobre fenômenos naturais.”

 

Vídeo Linha temporária: horizonte sombra, de Tales Bedeschi, parte da série Linha curva da Terra (2012). 

No Acervo VB
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