Kwa Baba Rithi Undugu

2010
Rehema Chachage
publicado em 17.07.2013
última atualização 18.12.2014

"Em Kwa baba rithi undugu, analisei em profundidade questões de raça, gênero e condição social como fonte de opressão, marginalização e, em muitos casos, uma 'ausência de voz na esfera pública'. Eu estava interessada na maneira como essa ‘ausência de voz’ pode levar alguém a...


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"Em Kwa baba rithi undugu, analisei em profundidade questões de raça, gênero e condição social como fonte de opressão, marginalização e, em muitos casos, uma 'ausência de voz na esfera pública'. Eu estava interessada na maneira como essa ‘ausência de voz’ pode levar alguém a recorrer às mídias populares, à exemplo do rádio, como um meio ou ferramenta alternativa para ser ouvido e tomar a palavra.

Esta obra joga com a ideia de ‘sintonizar uma voz’ – eliminando as vozes que tentam falar por você ou em seu nome; e sintonizando sua própria voz para que ela seja ouvida com mais clareza.

O som em Kwa baba rithi undugu é influenciado por um estilo de recitação poética peculiar ao litoral da Tanzânia. O trabalho começou na forma de uma conversa entre meu pai, já falecido, e eu, e a ideia veio de um rádio transistorizado que pertence à coleção que herdei dele.

Embora a obra tenha evoluído bastante, ela ainda mantém o título original, Kwa baba rithi undugu, que significa: nós herdamos nossas relações de nossos pais.

Na época em que foi criada, a obra dizia respeito à minha situação de estrangeira. Excluída, uma outra, alien, muitas vezes sem voz. Isso é consequência da alienação social experimentada na África do Sul, onde era uma estudante negra em uma instituição da classe média branca.

Acho que a mídia do rádio não tem limites. Na verdade, pode-se dizer até que, ao invés de estabelecer limites, o rádio tenta redefinir esses limites. Sua principal função é a transmissão e recepção da palavra, e não a preocupação com os contextos raciais, sociais ou culturais dos quais os donos dessas vozes advêm."
 

Rehema Chachage​​ em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)


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Dados técnicos

Kwa Baba Rithi Undugu (2010) | Rehema Chachage
Videoinstalação | 2 canais, 13’30”, estéreo, cor, 4 : 3, loop; escultura, 36 × 20 cm

Detalhes de Kwa Baba Rithi Undugu (2010) e de sua instalação no espaço expositivo do 18º Festival de Arte Contemporânea SESC_Videobrasil

Depoimento Rehema Chachage | 18º Festival

A artista, nascida na Tanzânia, fala de sua experiência na África do Sul, e do sentimento de ser estrangeira e não totalmente acolhida no país, que a levou a utilizar a ideia de voz em sua obra. Junto a isso, aparece a afinação como metáfora da inadequação

Ações VB
18º Festival
Outras conexões

Questionadas por Rehema em sua obra, as relações de raça e gênero são discutidas no pensamento de alguns ativistas e expoentes da crítica pós-colonialista como Homi Bhabha, Frantz Fanon, Steve Biko, Gayatri Spivak e Bell Hooks.

 
A artista cita ainda Thembinkosi Goniwe, curador e editor de Space: Currencies in Contemporary African Art, ao discutir o papel da arte na construção de outras narrativas históricas: "Os artistas estão [...] explorando outras maneiras criativas de reescrever suas histórias, identidades e desejos, na esperança de conseguir reordenar esses arranjos historicamente impostos e subjugadores." (2006)
 

Rehema se refere à um série de leituras, exposições e obras que apontam para o entendimento da diversidade na produção artística e cultural africana: 10 years, 100 artists: Art in a democratic South Africa (2004), editado por Sophie Prryer; Reading the Contemporary: African Art from Theory to Marketplace (1999), de Olu Oguibe e Okwui Enwezor; The Luggage is Still labeled: Blackness in South African Art (2003), vídeo de Vuyile Voyiya e Julie McGee; Olivida quien soy - Erase me from who I am (CAAM, Las Palmas, 2006), exposição de Elvira Dyangani Ose.


"As obras de artistas como Berni Searle, Minette Vari, Thando Mama, James Webb, Nandipha Mntambo, Indgrid Mwangi Robert Hutter e Maria Magdalena Campos-Pons estão entre as minhas principais referências", afirma Rehema.

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