"Eu soube da existência do cosmonauta sírio Muhammed Faris por meio uma notícia de jornal, em 2010. E, fiquei surpreso por nunca ter ouvido falar de Faris. Enquanto pesquisava sobre a missão russa no espaço, da qual a Síria participou, encontrei imagens de arquivo de um telefonema entre o ex-presidente sírio Hafez al-Assad...
"Eu soube da existência do cosmonauta sírio Muhammed Faris por meio uma notícia de jornal, em 2010. E, fiquei surpreso por nunca ter ouvido falar de Faris. Enquanto pesquisava sobre a missão russa no espaço, da qual a Síria participou, encontrei imagens de arquivo de um telefonema entre o ex-presidente sírio Hafez al-Assad e Mohammad Faris. Esse telefonema aconteceu no gabinete de Hafez al-Assad e foi transmitido ao vivo em rede nacional, em 1987.
Nessa ligação histórica entre Hafez al-Assad e Mohammad Faris, vemos o ‘pai da nação’ perguntar ao ‘herói’ quais seriam suas impressões, enquanto observa à distância as terras Sírias. A conversa mostra o líder eterno que, do conforto de seu gabinete, mantém o olhar vigilante sobre os filhos da nação – mesmo aqueles que estão a quilômetros de distância, no espaço.
Quando a revolta síria começou, em 2011, comecei a coletar imagens colocadas no Youtube pelos revoltosos. Eu estava interessado em comparar as imagens dos manifestantes com aquelas que haviam sido produzidas pelo regime. Em Pipe Dreams, coloquei um arquivo oficial ao lado das imagens do Youtube. Esse dispositivo questiona a autoridade das imagens de arquivo em contraste com imagens feitas por amadores.
No final da década de 1980, jovens que haviam sido revolucionários na Líbia (Muammar Al-Gaddafi), Iraque (Saddam Hussein), Egito (Hosni Mubarak) e Síria (Hafez al-Assad), já tinham tomado o poder e se afirmado como líderes únicos e eternos de seus respectivos países. Países onde o poder é alimentado por símbolos: estátuas dos fundadores, fotos gigantescas, orações do líder e heróis, obviamente. Essas imagens de arquivo são muito intensas devido ao contexto político atual da Síria e do Oriente Médio. Trata-se de um momento glorioso para uma nação árabe que, até há pouco tempo, estava encantada pela glória da corrida espacial comunista.
Vinte e cinco anos depois, no início da revolta popular na Síria em 2011, as autoridades, temendo vandalismo, desmontaram as estátuas de Hafez al-Assad nas cidades onde havia manifestações. Quando o poder começa a perder seus Monumentos, é o começo do fim; a contagem regressiva começa e a ‘decolagem’ é iminente. Assustado com as imagens de estátuas destruídas, de Stalin a Saddam Hussein, o regime tentou evitar o inevitável, sacrificando o Símbolo para salvaguardar a imagem.
Essa interface entre dois momentos da história recente da Síria resume a história de toda a região: os mecanismos de construção e desconstrução do poder totalitário, os sonhos e desilusões de todo um povo. Ao adotar esse ponto de vista em relação aos eventos que estão abalando esse território, Pipe Dreams procura trazer a dimensão poética para a política. É a tentativa constante da arte de inserir a narrativa pessoal em uma narrativa mais ampla da história política."
Ali Cherri em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)
- Dados técnicos
Pipe Dreams (2012) | Ali Cherri
Videoinstalação | 2 canais (projeção e monitor de TV), 5’08”, estéreo, cor, 4 : 3, loop
Depoimento Ali Cherri | 18º Festival
LIGAÇÃO DE RICHARD NIXON PARA A LUA (1969)
Ali Cherri sobre Pipe Dreams | Mapping Subjectivity, MoMA (2012)
- Ações VB
- 18º Festival
- Outras conexões
Postcards from Beirut: Part 2, por Chad Elias (Frieze Blog, jun. 2013) [eng]