Nascente

2012
Pablo Lobato
publicado em 14.07.2013
última atualização 16.08.2015

“A imagem de Nascente foi gravada em 2008 e o trabalho concluído em 2012. Eu estava com a câmera em um jardim quando o movimento da mangueira me chamou a atenção. Reposicionei o calço que a segurava até criar o plano que queria e então gravei uma longa sequência. Naquele momento, me interessei pelo modo que o corpo da mangueira...


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“A imagem de Nascente foi gravada em 2008 e o trabalho concluído em 2012. Eu estava com a câmera em um jardim quando o movimento da mangueira me chamou a atenção. Reposicionei o calço que a segurava até criar o plano que queria e então gravei uma longa sequência. Naquele momento, me interessei pelo modo que o corpo da mangueira respondia à força da água. Fiquei capturado pelo material até perceber o que ele podia oferecer.

Meu trabalho acontece mais a partir de encontros do que de buscas. Procuro receber o que me chega e antes que estes presentes voltem ao mundo, mesmo que minimamente modificados, é preciso encontrar uma consistência e uma síntese formal que sempre exigirão o seu tempo. Os trabalhos são respostas a estes encontros, muitas vezes, acidentais. Cada resposta é guiada pelos sentidos que o material em questão já informa, como um corte no que é dado. Sem buscar o domínio de uma linguagem, ou grandes habilidades técnicas, o meu envolvimento está voltado para as possíveis relações entre linguagem e vida, no esforço de escutar a natureza da coisa com a qual me relaciono. O maior tempo é o da escuta, ação que não deixa muitos rastros no resultado final.

Sinto que as vivências da primeira infância têm grande influência sobre nosso modo de criar, mais do que o contexto cultural hoje. Não procuro analisar esse passado, mas sempre constato como os espaços da infância foram e ainda são especiais nesse sentido. O quintal com árvores e bichos, a rua com os amigos, a fazenda do avô e o rancho na beira do Rio São Francisco. Conscientemente ou não, as sensações desses momentos nos acompanham. Ao praticar uma atenção flutuante, menos seletiva, tenho mais chance de trabalhar com forças dadas que trazem o frescor das primeiras experiências.

Já depois que a imagem chega, tem início outro processo, pois cada material pedirá um tratamento específico.

Em Nascente, o plano sequência e a câmera fixa instauram um tipo de silêncio que nos dá a ver esse acordo ordinário que tanto gosto, entre chão, mangueira e água.

Temos o chão exercendo sua gravidade, a água jorrando sem cessar, e o corpo azul de plástico que serpenteia imprimindo formas curvas ao plano.

Num determinado momento, sem que a água pare o seu fluxo, a mangueira encontra maior atrito e repousa por alguns segundos encaixando-se no corte do vidro. Cria-se um escape para o movimento que não estaciona e ressoa no espaço.

O uso do vidro faz com que Nascente dê um passo a mais em direção ao espaço, abrindo outras questões, ligadas a escultura. Eu precisava de um material que suportasse o corte, interferindo minimamente na imagem e que pudesse ficar apoiado sobre a superfície de projeção, ligado ao chão como um fio terra. O peso, a estabilidade, a transparência do vidro, são qualidades que acionam essa nova zona de toque, para além da projeção.”


Pablo Lobato em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)


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Dados técnicos

Nascente (2012) | Pablo Lobato
Videoinstalação | Vídeo, 3’, estéreo, cor, 16 : 9, loop, folha de vidro

Detalhes da obra e de sua instalação no espaço expositivo do 18º Festival de Arte Contemporânea SESC_Videobrasil

Depoimento Pablo Lobato | 18º Festival

O cineasta e artista mineiro concede depoimento por conta de sua participação no Festival e também dentro do contexto das comemorações de 30 anos. Lobato participa do evento, de maneira intermitente, desde sua 13a edição

Zen for TV (1963) | Nam June Paik

 

 

 

Ações VB
18º Festival
Outras conexões

“A sensibilidade que a árvore exige do jardineiro, para que ele faça uma boa poda, é algo que me inspira. Perceber a planta, saber por onde anda a seiva, esperar a melhor estação, a lua. Tal gesto me faz pensar nas noções de linguagem e vida que estão em trabalhos como o Nascente”, conta o artista.



Em seu relato, Pablo Lobato comentou o seu gosto pelo minimalismo e pela escultura e afirmou que, durante a realização de Nascente, o conceito de Metaestabilidade, do filósofo francês Gilbert Simondon, foi uma de suas referências.

Anexos

Nascente, por Clarissa Diniz (Do corte, Luciana Brito Galeria, São Paulo, Brasil, 2012). [pt/eng]
 

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