"Desenvolvi este trabalho em um processo diferente do usual. Dessa vez, passei por um período de pesquisa longo e emotivo. Comecei tendo conversas com meu pai, com (e sem) a câmera. Usei minha memória, relembrando histórias que ouvi em reuniões familiares, desde a infância. Li trechos dos diários de meu avô, e investiguei seu arquivo de fotos, procurando imagens que eu pudesse usar no filme.
Meu avô morreu quando eu tinha 2 anos de idade, e eu procurei conhecê-lo de todas as maneiras possíveis. Fui a um arquivo de rádio israelense e ouvi gravações antigas da sua voz. Assisti a jornais em preto e branco da década de 1950, nos quais ele aparecia em diversos eventos oficiais. Por fim, entrevistei seis pessoas que o conheceram como figura pública, três das quais aparecem no filme.
Esse filme é uma obra muito pessoal, que lida com minha história familiar e com minha ligação com Israel. Ele associa conversas livres – nas quais meus pais falam diretamente para a câmera e para o espectador – com imagens estáticas de paisagem.
Eu sempre uso um tripé, nunca movo a câmera, só espero o movimento acontecer no frame, com longos takes. Nesse trabalho, usei pela primeira vez entrevistas, filmando-as como sempre faço. Todas foram realizadas em um plano contínuo e, optei por mostrar os cortes das próprias entrevistas ao invés de escondê-los na edição.
Passei por um processo interessante com meus pais, ao filmá-los juntos pela primeira vez. Registrei nossas discussões, conversando como sempre fazemos à mesa do jantar. Desta vez, eu era não só a filha, mas também a diretora.
Essa obra é pessoal e política. Ela lida com as mudanças que o Estado de Israel vem sofrendo, da época em que ele era apenas um sonho até hoje, quando esse sonho se despedaçou. A obra aborda a experiência histórica da fundação de Israel e o desenvolvimento do Estado, de seus primeiros dias até hoje."
Nurit Sharett em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)