“Considero o acaso o grande catalisador de Galho.
O ponto de partida para a sua criação foi o encontro casual, durante uma caminhada, com um galho qualquer caído e quebrado na calçada. Geralmente nesses passeios, que são um dos meus meios de pesquisa, deixo-me ser sugerido por uma atenção descompromissada (o 'olhar amolecedor'), onde as ordens se afrouxam e novas relações se estabelecem.
O galho em questão estava fragmentado em duas partes, fazendo com que sua extremidade se separasse do restante da estrutura, mas se mantivesse alinhada. Acredito que a banalidade da cena, a disposição particular e acidental do objeto me chamaram atenção. A partir desta imagem, passei a estruturar o método de construção e procura do galho que possuísse as características necessárias para se criar o efeito de ilusão pretendido.
Para a confecção da obra, os galhos são encontrados e recolhidos em espaços públicos próximos da minha casa. Eles têm sua estrutura natural alterada: são cortados, lixados e montados no chão formando uma linha ondulada e tracejada que atravessa diagonalmente um espaço determinado.
Acredito que a questão de maior relevância aqui é a dualidade entre aparência e realidade – conceitos que cruzam a história da filosofia e da arte. A obra se constrói a partir de uma ilusão, fundamentada na aparência mimética do objeto utilizado. O galho que compõe a obra é um galho retirado de seu lugar habitual no mundo e que dá a ele seu aspecto realista, a partir do momento em que se torna corpo do trabalho.
Além disso, o modo como esse elemento é reconstruído passa por um artifício que pretende confundir os sentidos, à maneira de um trompe l'oeil, onde a noção de continuidade é dada por quem olha. Um estado de desconfiança se estabelece no momento em que a aparência realista do trabalho – reforçada pelo título de teor descritivo – se choca com a forma que aquele objeto se estende no espaço, revelando uma falsa realidade.
Essa obra se insere em uma produção que combina uma noção expandida do desenho, como apropriação das formas originais dos objetos. Apesar de sua evidência matérica e escultórica, aquele galho que penetra no chão tem sua base em um raciocínio gráfico, podendo ser entendido como uma linha sólida e fluida conduzida através da galeria.
Considero René Magritte e suas reflexões a respeito da relação entre imagem e mundo, uma referência central para a obra. Suas inversões de atributos lógicos da percepção e da representação desvelam os mecanismos da ilusão e descortinam a confusão entre imagem e objeto. De maneira realista, o artista retratava objetos absolutamente reconhecíveis em situações pouco usuais. Magritte, como em sua obra A Traição das Imagens (1929), se propõe a evidenciar a fratura entre a linguagem e as coisas às quais se refere, a distância intransponível entre representação e realidade."
Alexandre Brandão em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)