“As séries Atração dos Sólidos; Pedra-Filme e Fenômenos da Natureza em Paralaxe integram o projeto Fluxorama, juntamente com outras 16 séries. Em livros científicos, enciclopédias didáticas e outros tipos de publicações das décadas de 1930 até 1970, são garimpadas ilustrações que despertam algum tipo de interesse, seja relativo ao meio técnico de impressão de época (ruído, fora de foco, grão, retícula, fora de registro) ou pelo estranhamento que possam confabular (quando extraídas de seus contextos originais).
A partir de um arquivo montado com tais imagens são criadas ficções que atravessam os trabalhos, através de textos autorais, os quais figuram todas as séries do projeto Fluxorama. Tais textos podem integrar as séries, na apresentação dos trabalhos (Cartas, relatos, notícias, enunciados, teoremas) ou não serem visíveis. No último caso, os textos servem para o discurso do artista. Quando ele conta o que são os trabalhos. Talvez, como acontecerá aqui...
Exemplificando, no caso de Atração dos Sólidos são criadas pequenas colagens manuais em que há a presença de figuras humanas inseridas na paisagem, caminhando em direção a corpos sólidos. O trabalho surgiu em decorrência de uma notícia que encontrei em uma revista da década de 1970 sobre diferentes pessoas em distintos lugares do globo terrestre, que teriam desaparecido por um certo tempo. No reaparecimento, todos sujeitos relatam terem tido contato com sólidos geométricos.
Em Pedra-Filme, colagem manual digitalizada e impressa, são apresentadas figuras humanas mergulhadas em um cotidiano doméstico e que de tão concentradas, na luz da TV ou na tela de cinema, não percebem a presença de grandes blocos de pedras que flutuam em suas direções. Cogita-se também que as pedras são percebidas, mas ignoradas.
Em Fenômenos da Natureza em Paralaxe, original escaneado em alta resolução e sem alteração digital, são apresentadas imagens que foram encontradas em livros, as quais problematizam questões ligadas à ótica ou a outros campos da física. Trata-se de imagens que, pela perspectiva, ângulo de fotografia, desvio de lente, erro de impressão e distância focal, criam ruídos relativos à origem das imagens.
Situando tais séries no interior de minha poética, percebo uma transição lenta e natural do foco científico literal para uma abordagem fenomenológica das imagens. Naturalmente, as novas séries do projeto Fluxorama estão se adensando corporalmente sob a perspectiva intuitiva, abstrata e mediúnica de um sujeito que lê muito livros, mas que esquece de seus conteúdos.
Penso que a defasagem temporal das imagens que manipulo e de seus contextos originais, relacionados à natureza ou à ciência, desencadeiam um diálogo mais próximo à literatura ou ao cinema. E, portanto, seguindo essa perspectiva acredito que as três séries apresentadas lidam com experiências sensoriais, muito comuns em nosso cotidiano, talvez não percebidas, mas intuídas. Nessa lógica, o lapso temporal das imagens, suas defasagens e seus ruídos falam de uma ficção contemporânea, onde a cultura visual, por exemplo, pode ser mais interessante que a própria arte.”
Michel Zózimo em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)