"Tenho pensado sobre a história de violência que assola o meu país natal, a Colômbia, há muitas décadas. Sempre tive a impressão de que o que acontece aqui não tem recebido a atenção e compreensão necessárias. É por isso que me dediquei a ler e estudar tudo que esteja relacionado a essa história e seus desdobramentos recentes.
Antes de começar a trabalhar em The Night of the Moon Has Many Hours eu soube do número extraordinário de pessoas – de todo o tipo, mas principalmente fazendeiros pobres da periferia colombiana – que haviam desaparecido. O que me chamou a atenção foi perceber que essa tragédia envolve não só o desaparecido, mas também todos aqueles que ela deixa para trás: parentes, amigos e entes queridos. Os relatos que li descrevem como eles passavam semanas, meses e anos aguardando notícias. Alguns dedicam toda sua energia para viajar de cidade em cidade, em busca de qualquer pista do paradeiro da pessoa desaparecida.
Eu li sobre outros países que tiveram experiências semelhantes. Por exemplo, Aldo Bolaños, do Instituto Peruano de Antropologia, diz que nessas situações cada corpo devolvido cicatriza uma ferida. De volta à Colômbia, o testemunho de Pastora Mira Garcia, cuja filha desapareceu, ecoa esse pensamento: 'quando alguém dá à luz uma criança e algo ruim acontece, uma canção começa a tocar... essa canção só termina quando você consegue enterrar seu filho. Mas, no meu caso, a canção que ouço continua tocando e tocando e tocando'.
Segui pesquisando e encontrei relatórios em que líderes paramilitares confessavam que para eliminar os vestígios de seus crimes, eles se livraram dos corpos das pessoas executadas jogando-os em rios. Essa prática era tão disseminada que a revista semanal colombiana Semana escreveu que ‘se os rios falassem, centenas de crimes cometidos pelos paramilitares seriam solucionados’.
Inicialmente, eu estava decidido a criar imagens estáticas que pudessem falar metaforicamente sobre o que estava lendo. Em algumas dessas cenas eu imaginei uma imagem subaquática dos corpos nas profundezas de um rio. Em outra, víamos um homem navegando silenciosamente por águas escuras. Esbocei outras imagens e percebi que com elas, eu tinha os tijolos para construir uma narrativa. Foi então que decidi fazer um filme.
Quando produzi o filme, não tinha a intenção de intepretar diretamente as questões que estava investigando. Além disso, um dos desafios que enfrentei era: como discutir um determinado tipo de violência extrema sem recriá-la? É por isso que há um elemento alegórico mediando o mundo apresentado no filme.
Acho que, em geral, minha obra se caracteriza por um elemento de tranquilidade e simplicidade. meu ideal seria atingir um certo nível de eloquência através de uma total economia de meios formais.
Para mim, mediar as coisas, alterando-as e desviando um pouco do que é tido como fato estabelecido é uma maneira de reconhecer tanto a minha subjetividade quanto a do espectador. É uma maneira de aceitar que a obra em si não é dona de qualquer verdade, e que ela só se assemelha à minha relação subjetiva com as questões que pesquiso."
Mauricio Arango em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)
I saw Mauricio's Night of the Moon at cinema Cesci. I was very impressed. Enjoyed reading his process and thinking.