The Night of The Moon Has Many Hours

2011
Mauricio Arango
publicado em 30.06.2013
última atualização 09.01.2015

"Tenho pensado sobre a história de violência que assola o meu país natal, a Colômbia, há muitas décadas. Sempre tive a impressão de que o que acontece aqui não tem recebido a atenção e compreensão necessárias. É por isso que me dediquei a ler e estudar tudo que esteja relacionado a essa história...


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"Tenho pensado sobre a história de violência que assola o meu país natal, a Colômbia, há muitas décadas. Sempre tive a impressão de que o que acontece aqui não tem recebido a atenção e compreensão necessárias. É por isso que me dediquei a ler e estudar tudo que esteja relacionado a essa história e seus desdobramentos recentes. 

Antes de começar a trabalhar em The Night of the Moon Has Many Hours eu soube do número extraordinário de pessoas – de todo o tipo, mas principalmente fazendeiros pobres da periferia colombiana – que haviam desaparecido. O que me chamou a atenção foi perceber que essa tragédia envolve não só o desaparecido, mas também todos aqueles que ela deixa para trás: parentes, amigos e entes queridos. Os relatos que li descrevem como eles passavam semanas, meses e anos aguardando notícias. Alguns dedicam toda sua energia para viajar de cidade em cidade, em busca de qualquer pista do paradeiro da pessoa desaparecida.

Eu li sobre outros países que tiveram experiências semelhantes. Por exemplo, Aldo Bolaños, do Instituto Peruano de Antropologia, diz que nessas situações cada corpo devolvido cicatriza uma ferida. De volta à Colômbia, o testemunho de Pastora Mira Garcia, cuja filha desapareceu, ecoa esse pensamento: 'quando alguém dá à luz uma criança e algo ruim acontece, uma canção começa a tocar... essa canção só termina quando você consegue enterrar seu filho. Mas, no meu caso, a canção que ouço continua tocando e tocando e tocando'.

Segui pesquisando e encontrei relatórios em que líderes paramilitares confessavam que para eliminar os vestígios de seus crimes, eles se livraram dos corpos das pessoas executadas jogando-os em rios. Essa prática era tão disseminada que a revista semanal colombiana Semana escreveu que ‘se os rios falassem, centenas de crimes cometidos pelos paramilitares seriam solucionados’.

Inicialmente, eu estava decidido a criar imagens estáticas que pudessem falar metaforicamente sobre o que estava lendo. Em algumas dessas cenas eu imaginei uma imagem subaquática dos corpos nas profundezas de um rio. Em outra, víamos um homem navegando silenciosamente por águas escuras. Esbocei outras imagens e percebi que com elas, eu tinha os tijolos para construir uma narrativa. Foi então que decidi fazer um filme.

Quando produzi o filme, não tinha a intenção de intepretar diretamente as questões que estava investigando. Além disso, um dos desafios que enfrentei era: como discutir um determinado tipo de violência extrema sem recriá-la? É por isso que há um elemento alegórico mediando o mundo apresentado no filme.

Acho que, em geral, minha obra se caracteriza por um elemento de tranquilidade e simplicidade. meu ideal seria atingir um certo nível de eloquência através de uma total economia de meios formais. 

Para mim, mediar as coisas, alterando-as e desviando um pouco do que é tido como fato estabelecido é uma maneira de reconhecer tanto a minha subjetividade quanto a do espectador. É uma maneira de aceitar que a obra em si não é dona de qualquer verdade, e que ela só se assemelha à minha relação subjetiva com as questões que pesquiso."


Mauricio Arango em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)


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Dados técnicos

The Night of The Moon Has Many Hours (2011) | Mauricio Arango
Vídeo | 12’, estéreo, cor, 16 : 9

Excerto da obra

Depoimento Mauricio Arango | 18º Festival

O artista colombiano fala sobre as ligações entre a história de seu país e a violência, temas de sua obra. Segundo Arango, em seu trabalho esse passado cruel não é trazido à tona de maneira documental, mas por meio de uma narrativa ficcional

The Naked Island (1960) | Shindo Kaneto

A Noite do Caçador (1955) | Charles Laughton

Ações VB
18º Festival
Outras conexões

"No início desse projeto eu estava lendo a trilogia de Samuel Beckett (Molloy, Malone Morre e O Inominável) (1959). Os personagens de Beckett parecem não conseguir subir até uma altura da qual uma queda seria possível. No pouco que parece acontecer a eles, há também uma aceitação simbólica de nossa fragilidade e finitude. E eles são referências importantes para mim", explica Mauricio Arango

 

"The Body in Pain (1985), de Elaine Scarry, e Horrorism, Naming Contemporary Violence (2009), de Adriana Cavarero me ajudaram a entender as implicações políticas da dor e do horror".

 

"Quando soube que o trabalho envolveria água, passei a observar atentamente o projeto fotográfico Another Water (2000), de Roni Horn."

 

"William Kentridge sempre me impressionou pela maneira como lidou com o passado de seu país de origem, a África do Sul." 

No Acervo VB
Comentários

I saw Mauricio's Night of the Moon at cinema Cesci. I was very impressed. Enjoyed reading his process and thinking.

Julian 06.12.2013