"Em 1998, quando era estudante, embarquei em uma tentativa de fazer uma série de ilustrações para as Elegias de Duino de Rainer Maria Rilke. Fiz muitos desenhos inspirados em partes dessas elegias e montei-os como um filme. Esse processo foi longo e inacabado.
Anos se passaram até que reencontrei na paisagem da minha cidade características que poderiam tocar novamente nesses temas. Vejo essa série de areia, iniciada em 2011, como resultado dessa investigação, que durou mais de uma década.
Como em todos os trabalhos que realizo, a pesquisa começa a partir de objetos, situações e acontecimentos do cotidiano. Morando no Rio, a praia se tornou uma espécie de cômoda dentro do meu espaço doméstico; e o trânsito pacato e constante das pessoas caminhando na areia, uma espécie de metrônomo.
A presença dessa vista ininterrupta acabou por invadir a fronteira do meu espaço íntimo e se tornou tão inseparável da minha percepção das coisas do mundo como os móveis e objetos numa casa. Com sua onipresença, eles nos observam de volta, fundindo-se com nossas questões mais profundas. Esses objetos se tornam agentes que instigam a trabalhar com as minhas preocupações.
Vejo Sem título (praia 12), e todas as obras da série de areia, como desenhos. Uma simplificação e síntese da narrativa que eu buscava em resposta às elegias de Rilke. O desenho como um agente para um fluxo rápido e espontâneo de ideias, mais próximo da escrita.
Uso tinta a óleo sobre madeira, mas não penso em questões inerentes à pintura. Penso geralmente de forma narrativa, mas não me preocupo com fatos. Os personagens que cruzam essa paisagem são percebidos longe demais para que os fatos sejam desvendados. Essas imagens da praia formam fragmentos de uma narrativa afetiva que tenta entender o processo entrópico da relação com aquilo que nos cerca."
Maria Klabin em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)
