"O vídeo foi realizado durante uma residência em Utrecht, na Holanda. Busquei refletir sobre o tema do Festival Impakt, em 2011, The Right to Know (O Direito de Saber), que aborda novas nuances no conceito de privacidade em tempos de WikiLeaks e sistemas de comunicação ubíquos.
Penso que há uma oscilação de valores ou de arbítrio quando se discute questões ligadas a privacidade, os limites entre as esferas públicas e privadas, a liberdade de expressão individual e coletiva, e as informações de interesse comum. Trata-se uma abordagem que se desdobra a partir de projetos anteriores, como o trabalho de net-art meta4walls (2001), o vídeo Aqui de Novo (2004) e a instalação 4 Paredes (2004). Mas, se nesses trabalhos anteriores o foco era a questão da privacidade e suas implicações culturais, sociais e políticas, em WYSIWYG há um sentido aberto para interpretações subjetivas.
Fui gravando as imagens de forma bastante livre, buscando uma pictorialidade que julguei atípica aos lugares-comuns associados à Holanda. A ideia foi a de atribuir maior subjetividade às imagens, refletindo alterações na percepção cultural das paisagens. Realizei imagens em bairros periféricos – habitados principalmente por imigrantes –, onde as relações são mais tensas e evidenciam uma certa ‘guetificação’ cultural. Em algumas situações, comecei a me sentir um tanto incomodado em ser mais um olho curioso a invadir a privacidade dos habitantes dessas regiões. Isso se invertia em outras circunstâncias, onde eu era o imigrante; alguém que não falava a língua holandesa e se comportava de modo distinto aos habitantes locais. Ocorre uma alternância de intrusões, que acaba por evidenciar uma relação de opressão.
O trabalho talvez se enquadre em uma vertente que lida com a manipulação da percepção. Tentei fazer com que as cenas oscilassem as certezas entre o visível e o imaginado, por meio de detalhes subtraídos ou adicionados às imagens. Algumas são explicitamente manipuladas, em outras, a manipulação ocorre abaixo da superfície. Nesse sentido, o trabalho fotográfico de John Baldessari – onde partes das imagens são ocultadas com tinta – foi uma referência importante.
Mas, foi a partir do próprio tema do festival Impakt – cujas peças gráficas também reproduziram esse processo de subtração de elementos de uma foto – que passei a ocultar partes da imagem em movimento ou a acrescentar situações que não estavam na cena gravada.
Todas as operações de apagamento ou obstrução de partes da imagem no vídeo se deram com o intuito de reforçar as questões ligadas ao acesso e percepção da informação, reiterando a forma oscilante como ‘lemos’ e interpretamos imagens. Trata-se de um processo que envolve diferentes recursos, às vezes de forma sutil, às vezes com intervenções gráficas.
Creio que, dessa forma, as questões tratadas pelo vídeo se evidenciam igualmente com maior ou menor clareza. Essa oscilação me interessa, pois mostra as operações de apagamento ou obstrução conduzidas no trabalho. É um trabalho realmente experimental, à medida em que procuro configurações de linguagem dissonantes da maioria dos meus vídeos anteriores."
Lucas Bambozzi em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)