Lago Onega N.8

2012
Jacinto Astiazarán
publicado em 15.06.2013
última atualização 18.12.2014

"Eu estava em um táxi quando notei pela primeira vez o edifício que aparece em Lago Onega N.8. A rua elevada em frente ao edifício oferece o seu ângulo mais dramático e a primeira aparição do edifício no vídeo foi registrada desse ponto de vista, com uma câmera na mão em movimento. Consequentemente, o processo de...


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"Eu estava em um táxi quando notei pela primeira vez o edifício que aparece em Lago Onega N.8. A rua elevada em frente ao edifício oferece o seu ângulo mais dramático e a primeira aparição do edifício no vídeo foi registrada desse ponto de vista, com uma câmera na mão em movimento. Consequentemente, o processo de experimentar e pesquisar a história recente desse edifício, que na época estava no estágio final de construção, é refletido na estrutura do vídeo.

Naquele período eu estava trabalhando com maquetes 3D de edifícios corporativos e outras estruturas arquitetônicas, que manipulava tendo em mente produzir um efeito do impossível. Assim, quando vi o edifício situado em Lago Onega N.8, um bairro adjacente à Cidade do México, imediatamente me lembrei daquelas maquetes — como se alguém tivesse utilizado um arquétipo estabelecido, alterado sua forma e o inserido em um contexto muito diferente. 

Durante o processo de produção eu conheci Ana, a empresária do setor de construção que aparece em Lago Onega N.8. Ao tentar compreender, ou pelo menos trazer para um espaço mais concreto, o que justifica a construção do edifício da Ana, eu estudei sua vida pessoal e profissional e descobri conexões que, em minha opinião, estavam relacionadas ao meu próprio trabalho.

Por ter crescido em uma cidade de fronteira no México e vivido a maior parte da vida adulta nos Estados Unidos, minha história é resultado de um conjunto de associações e pontos de vista que, inevitavelmente, ressoam em meu trabalho. Portanto, este projeto foi muito importante para mim como elemento de formação em meio aos esforços da minha prática artística.

Eu estava lendo A Poética do Espaço, de Gaston Bachelard, durante a pós-produção do trabalho. Suas reflexões sobre a fenomenologia como experiência afetiva dos interiores domésticos foram muito inspiradoras para abordar este projeto. Ele escreve sobre casas altas como facilitadoras da experiência onírica.

Considero interessante o fato de que Ana, nascida na Cidade do México, apropria-se de um dos mais fortes ícones do sonho americano: a casa suburbana com estrutura em A. Essa é uma metáfora muito usada no imaginário da cultura popular norte-americana, mas seu impacto sobre Ana foi meu foco de investigação.

Eu me senti particularmente atraído por este projeto devido à afirmação do agenciamento criativo de Ana, tão ousado e dispendioso, independentemente de questões de gosto. No vídeo, eu evitei discussões sobre o fracasso do projeto, embora tenha descoberto em conversas subsequentes com ela que o edifício ficou incompleto devido a restrições orçamentárias, e que infelizmente a maioria dos apartamentos não foi vendida.

Tomando o tema desta obra como metáfora para uma situação contemporânea mais abrangente e multifacetada, me interesso pela perspectiva do indivíduo. Ana reifica sua própria opinião através do espetáculo da construção – uma qualidade latente de qualquer empreitada arquitetônica. Isso é uma evidência concreta e individual daquilo que podemos chamar do olhar coletivo do espectador, do forasteiro global; uma prova do alcance ideológico, no sul geopolítico, de alguém situado fora do contexto."


Jacinto Astiazarán em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)


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Dados técnicos

Lago Onega N.8 (2012) | Jacinto Astiazarán
Vídeo | 22’30”, estéreo, cor, 16 : 9

Excerto de Lago Onega N.8 (2012)

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