"A matéria-prima para o filme Hidden Cities é composta por obras fotográficas sequenciais que criei entre 1975 e 2010.
Toda obra fotográfica contém em si uma ideia, uma organização, um programa, um conceito – como uma partitura, uma notação. Um exemplo dessa organização pode ser uma linha reta no meio de uma fotografia em preto e branco. A linha é um corrimão de escada, um meio-fio, uma trilha, a parede de uma casa, etc. Como em cada foto de Hidden Cities, onde duas características diferentes estão lado a lado, e a imagem registra o encontro dessas instâncias. Cada encontro é uma 'simulação de montagem' e, juntas, as fotos formam sequências espaço-temporais que contêm em si o cinematográfico.
Tais sequências fotográficas são, portanto, experimentos que desconstroem o cinematográfico, ao mesmo tempo em que usam meios próprios ao cinema para construir e criar potenciais espaços políticos, sociais e pessoais.
No filme, o texto, os vocais, a música e o som ditam o andamento, o ritmo e a duração da imagem estática, como se essa imagem não tivesse duração predeterminada. O texto falado incorpora a tarefa de significar, antecipar e questionar circunstâncias, fatos e ações.
Desde 1998, eu colaboro com Katja Pratschke. Em nosso trabalho, exploramos a relação entre imobilidade e movimento, a diferença entre o estático na fotografia e a imagem em movimento do cinema. A questão básica é: de quanto movimento a imagem cinematográfica precisa? No momento em que a imagem pára no filme, ela nos convida a contemplá-la, e ficamos contentes por 'ver mais': interpretando a imagem como um conceito, participando do estudo das imagens e sendo inspirados por sua extensão imaginária.
Entendemos as nove descrições de cidades de Hidden Cities como experimentos de percepção fílmica, relacionadas ao nosso embate com a imagem estática em um contexto cinematográfico.
Hidden Cities foi inspirado pelo livro As Cidades Invisíveis de Italo Calvino. Ao invés de convidar o espectador a ver a cidade em sua complexidade, nós – assim como Calvino – descrevemos aspectos urbanos individuais: circunstâncias, redes sociais, atividades urbanas e estruturas de poder. Nossas descrições de cidade não apresentam teses ou afirmações sobre a verdadeira natureza da cidade. Ao invés disso, nós formulamos hipóteses, pressuposições e possiblidades nas quais nos reconhecemos como habitantes do espaço urbano.
As cidades nas quais as sequências de fotos foram feitas – Berlim, Budapeste e Nova York – são locais com passados traumatizados por guerras, ditaduras e catástrofes terroristas. Cada uma dessas 'percepções de cidade' retrata situações essenciais de experiências urbanas contendo atos humanos e inumanos, de modo condensado."
Gusztáv Hámos em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)