Malleable Tracks

2012
Gregg Smith
publicado em 04.06.2013
última atualização 08.09.2014

"O filme é inspirado numa viagem de trem que eu fazia com muita frequência entre Paris e a escola de arte onde leciono, na Suíça. O trem de alta velocidade pode ser muito monótono e a viagem dura 6 horas. Entretanto, existem algumas paradas muito interessantes no caminho, como a velha alfândega na fronteira entre França e Suíça e...


Leia mais +

"O filme é inspirado numa viagem de trem que eu fazia com muita frequência entre Paris e a escola de arte onde leciono, na Suíça. O trem de alta velocidade pode ser muito monótono e a viagem dura 6 horas. Entretanto, existem algumas paradas muito interessantes no caminho, como a velha alfândega na fronteira entre França e Suíça e o restaurante Buffet de la Gare, em Lausanne, que tornaram-se os principais protagonistas do filme. Aos poucos, esses lugares e as experiências desse estilo de vida em longas distâncias alimentaram o desenvolvimento de uma ideia para um filme. 

Tentei redigir um roteiro que se passa muito rapidamente e, ao mesmo tempo, contém riqueza e lirismo em seus elementos – os diálogos, as decorações e os personagens. O filme brinca com a relação do espectador com a imagem do cinema e com a possibilidade de acessar essa ligação emocional com imagens do passado. Despertar o desejo e a intuição do espectador com o mínimo de elementos era a ideia central do filme. 

Naquela época, eu estava pensando muito nos ritmos acelerados da vida e na dificuldade de encontrar a sensação de estar centrado em um mundo instável, aquilo que Zygmunt Bauman chama de 'modernidade líquida'. Acho que sempre tive uma questão com o tempo. Em minhas produções, há uma urgência em criar uma consciência dos ritmos naturais e das capacidades do corpo, e em apresentar a força da intuição humana.

Durante o processo criativo, os diálogos mais interessantes que tive foram com meu câmera, Javier Ruiz, e com o ator principal, Hippolyte Girardot. Malleable Tracks foi criado dentro do contexto do cinema e as pessoas que trabalham com cinema sempre querem saber detalhes sobre os projetos que estão desenvolvendo, ao passo que os artistas lidam com ideias mais abstratas. Isto gerou uma tensão curiosa. Eu estava feliz pelo fato deles estarem empolgados em fazer o filme, mas não podia fornecer todas as respostas que eles queriam. 

Malleable Tracks é uma obra sobre o estágio avançado de globalização, no qual existe um alto grau de mobilidade e a vida é, cada vez mais, vivida por meio da informação mediada do que pela experiência direta. O filme apresenta a experiência direta e os encontros casuais como sendo ao mesmo tempo sedutores e ameaçadores. O filme também procura uma maneira de seguir em frente nesse desequilíbrio entre experiência mediada e contato direto, procurando ativar o vocabulário altamente sofisticado da imagem em movimento, que eu acredito que todas as pessoas herdaram."


Gregg Smith em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)


Reduzir texto -
Dados técnicos

Malleable Tracks (2012) | Gregg Smith
Vídeo | 22’52”, copiado de original 35mm, estéreo, cor, 16 : 9

Excerto da obra Malleable Tracks (2012)

Depoimento Gregg Smith | 18º Festival

O artista sul-africano, que participa do Festival desde o começo dos anos 2000, fala de seu vídeo, cuja ideia lhe surgiu durante as paradas das constantes viagens que realiza de trem entre a França e a Suíça

Excerto da obra Malleable Tracks (2012)

L'avventura (1960) | Michelangelo Antonioni

A trilogia de Antonioni, L'avventura (1960), La notte (1961) e L'eclisse (1962), deu ao artista "a noção de que somos hoje muito menos vítimas das forças da modernização, do que eram os protagonistas desses filmes".

 

La notte (1961) | Michelangelo Antonioni


 

L'eclisse (1962) | Michelangelo Antonioni


 

Ações VB
18º Festival
Outras conexões

The self as the centre of narrative gravity (1986), de Daniel Dennet, trouxe a Gregg Smith referências a respeito do aspecto ficcional da percepção e da identidade humana.

No Acervo VB
Comentários