"FLUXUS foi uma tentativa de representar o tempo na paisagem do Sul do Chile e de compreender as dinâmicas íntimas da natureza.
O enquadramento estético dessa obra em particular me remete à pintura tradicional chinesa (960–1368). Eu filmei na vertical (9:16) para retratar uma paisagem singular na Patagônia onde nada parece acontecer, exceto o movimento majestoso de uma cachoeira. A aparição do rio a partir de uma geleira e o movimento suave e sutil de algumas flores em primeiro plano sugerem o ritmo do vídeo.
Eu queria criar um novo estado de contemplação que fizesse referência à poética da contemplação do tempo. A cachoeira representa a impermanência em contraste com a imutabilidade, como num símbolo oriental da existência. A continuidade do ser: renascimento, amadurecimento e evolução constante.
Minha produção sempre esteve relacionada à descoberta dos segredos das dinâmicas naturais do tempo. Eu entendo FLUXUS como um vídeo que cria possibilidades de se experimentar a ‘presença’ da paisagem e seus ritmos por meio da observação dos fenômenos naturais, sem qualquer elemento narrativo que não as qualidades básicas da imagem em movimento. Eu concebi FLUXUS como uma espécie de ‘portal espaço-tempo’.
Quando realizei esse vídeo, meu principal exercício era me perder em locais isolados sem qualquer presença humana visível. Simplesmente observar a paisagem sob a luz natural. Tal processo me levava lentamente a um estado consciente de tranquilidade. Eu conseguia transformar minha ansiedade, causada pelo ritmo sobrecarregado da vida na cidade, e me reconectar com o ritmo dos ciclos naturais.
Eu me preocupo com o futuro da paisagem chilena. Ela se encontra em uma situação muito frágil, em decorrência dos ambiciosos projetos de mineração que empresas da Europa, do Canadá e da América do Norte estão desenvolvendo por todo o país, sem levar em consideração o impacto ambiental que eles terão. Esses projetos são praticamente geleiras em movimento, represando rios para extrair ouro, prata, cobre e gás. Tudo para gerar a energia necessária para a perpetuação de gigantescas indústrias estrangeiras."
Gianfranco Foschino em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)