"A pesquisa para Inverno aconteceu – como nos demais trabalhos de minha produção – em dois momentos paralelos. Não houve um estudo anterior. A pesquisa se deu em andamento com o próprio trabalho, com anotações que realizo em meu cotidiano, muitas vezes sem ligação direta com a obra. Das frases soltas que ouço...
"A pesquisa para Inverno aconteceu – como nos demais trabalhos de minha produção – em dois momentos paralelos. Não houve um estudo anterior. A pesquisa se deu em andamento com o próprio trabalho, com anotações que realizo em meu cotidiano, muitas vezes sem ligação direta com a obra. Das frases soltas que ouço na rua, passando pelas cenas que vejo nos lugares por onde passo, aos desenhos (quase rabiscos) de algo que me chama atenção.
Esse processo de captar as referências aparece em diversos momento da pesquisa. Durante a produção, essas referências se mesclam com o improviso e a imaginação. Exploro as ferramentas que o desenho proporciona, os grafismos, as linhas e tantos outros elementos. Há, nesse momento, uma grande influência da televisão que permanece ligada fazendo com que absorva informações (úteis e inúteis), que acabam por aparecer em diversas partes de Inverno. No meu trabalho, o desenho é um meio para pesquisa e não um fim, um produto final em si.
Em minha poética, o campo da arte não é uma referência tão forte quanto o universo urbano, cotidiano e televisivo. Embora alguns artistas tenham sem dúvidas me influenciado muito. São artistas que criam personagens, monstros e criaturas. Obras onde há um certo mistério por trás das imagens. Marcello Graisman, Samico, Keith Hearing e Trenton Doyle Hancock são alguns desses nomes.
Inverno foi realizado a partir do final de junho de 2012, inicio do inverno, e por isso o título da obra. Foi neste momento que houve a queda do ex-presidente do Paraguai, Fernando Lugo, e a suspeita de golpe. Foi também neste período que joguei na quina todas as semanas... Grande parte destes acontecimentos, diálogos e aproximações estiveram ligados a realização desse trabalho.
O mais significativo em Inverno é o contexto urbano. Em São Paulo – uma cidade miscigenada, com os mais diversos costumes e culturas – loucura e caos se refletem no modo como as pessoas vivem a cidade, e na forma como produzo. Inverno é um desenho que se constrói, assim como a cidade, em linhas emaranhadas, camadas sobre camadas, escritos misturados com imagens.
Este trabalho lida com pequenas narrativas e ficções; são inúmeros desenhos que juntos formam uma composição. Cenas que capto em meu dia-a-dia e se misturam com imagens improvisadas. Em seus muitos detalhes e efeitos gráficos, a obra convida o público a desacelerar, gastar um tempo observando essas linhas atrapalhadas, sem muita lógica; noticias incompletas e frases sem sentido que trazem em si um mistério. Um universo em que o improviso reina e o erro não existe."
Gabriel Torggler em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)
- Dados técnicos
Inverno (2012) | Gabriel Torggler
Desenho | Nanquim, ecoline, aquarela e têmpera sobre papel de aquarela 300 g, 135 × 150 cm
- Ações VB
- 18º Festival