O trabalho que faço funciona como um espelho de um mundo habitado por diferentes corpos. No meu trabalho fotográfico, por exemplo, esses corpos são tão materiais quanto as paisagens, os cenários, e os objetos enquadrados na obra. Em uma prática fotográfica autorreflexiva, onde o corpo está no centro da imagem e da narrativa, como na maior parte dos meus trabalhos, a materialidade se torna o veículo através do qual o sentido pode ser inscrito e retido. O material também pode operar para prescrever/descrever um contexto particular em uma obra. Na maioria dos casos, o material ou o corpo é muitas vezes a narrativa.
A arte sempre teve o papel de espelhar a sociedade, especialmente ao abordar criticamente as memórias e o legado do colonialismo e do apartheid. A arte precisa refletir as experiências vividas de um momento em particular do tempo. Mas a arte também pode ser um modo de reter a memória através da cultura. Por isso, a arte pode ser reflexiva tanto como um espelho quanto como uma janela para nosso passado. Assim, em um contexto em que o colonialismo engendrou o apagamento da cultura africana como meio de explorar a terra e o povo, o papel da memória é central para moldar o futuro da África na era pós-colonial.
Em um estado industrial racializado, a mão-de-obra é um recurso indispensável. Nesse sentido, a descoberta de ouro e diamantes na África do Sul removeu todos os entraves à exploração em massa dos corpos, em sua maioria de homens negros, para cavar o terreno e extrair a riqueza mineral sob condições de escravidão. No meu trabalho, a predominância da figura masculina é resultado de uma reflexão biográfica das minhas experiências de vida, mas também representa o meu interesse no papel da masculinidade e da raça na história sul-africana. Em grande medida, a violência e a discriminação social do Estado racista sul-africano foram expressas no tratamento brutal contra o corpo negro masculino.