¡KACHKANIRAQKUN! / ¡SOMOS AÚN! / ¡WE ARE, STILL!

2018
Claudia Martínez Garay
publicado em 25.09.2019
última atualização 01.10.2019

Nasci na região montanhosa do Peru, mas precisei me mudar de lá quando era muito pequena, porque era uma época em que havia começado a guerra e o terrorismo. Embora as ideias de guerra e conflito sempre estivessem presentes no meu trabalho, as ideias da minha própria identidade, em relação à identidade chola, parda e indígena eram...


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Nasci na região montanhosa do Peru, mas precisei me mudar de lá quando era muito pequena, porque era uma época em que havia começado a guerra e o terrorismo. Embora as ideias de guerra e conflito sempre estivessem presentes no meu trabalho, as ideias da minha própria identidade, em relação à identidade chola, parda e indígena eram quase sempre descartadas e silenciadas, devido ao classismo e ao racismo da cidade de Lima, tão presentes ainda hoje. Assim, essa parte desconhecida da minha identidade, como pessoa de aparência indígena, fez-me pensar sobre indigenismo, alienação cultural, colonialismo e modernidade, fez-me imaginar e estimular minha prática com o desejo de propor ideias e estéticas descolonialistas, constantemente questionando a mim mesma se isso é possível ou não. 

Meu interesse em imagens pré-existentes desse imaginário político se deve ao meu gosto por histórias, em como nos foram contadas histórias, e a história, através desse imaginário. Os pequenos intervalos entre o que sabemos sobre elas e o que acreditamos a partir delas, permitem espaços para a imaginação e a especulação sobre o verdadeiro significado das imagens, algo que jamais poderíamos conhecer plenamente.

Então, penso que ao reler e reaprender, podemos reformular como entendemos o passado. Também há um grande poder e uma responsabilidade no modo como podemos escrever o momento presente, e modificar e transformar a percepção de certas imagens e acontecimentos para a memória e o futuro coletivos.

A instalação que apresento na 21ª Bienal funciona como uma reunião de diferentes culturas e movimentos no tempo e no espaço, antigas e recentes, que se desenvolveram no atual território peruano. Essas diferentes culturas compartilham memórias e ideologias da vida e da morte de um modo metafórico e simbólico. Historicamente, as ideologias nasceram, forçadas e desenvolvidas nessa terra – ideias como sacrifício, modernidade, colonialismo, cristianismo, indigenismo, marxismo, comunismo etc. – todas as quais causaram derramamento de suor e sangue nessa terra. Nesse solo, cresceram e se desenvolveram os frutos que alimentam o povo. A presença espalhada das cerâmicas na instalação funciona como lembrete e sugestão do passado, incompleto e isolado, como nas formas de exposição e na memória colonial presentes nas vitrines dos museus etnográficos.


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Dados técnicos

¡KACHKANIRAQKUN! / ¡SOMOS AÚN! / ¡WE ARE, STILL!

2018 | Instalação composta de barro cozido, tijolos, metal, ferro, pintura com acrílico e argila em painel

Ações VB
21ª Bienal
Outras conexões

CADENA, Marisol de la, The Racial Politics of Culture and Silent Racism in Peru. 2001 [EN]

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