SCHMITT, YOU AND ME

2016
Omar Mismar
publicado em 25.09.2019
última atualização 01.10.2019

O motivo para essa loja de armas, e especialmente esta, no Maine, é que no verão de 2016 eu estava em uma residência artística na cidade de Skowhegan, no Maine. A cidadezinha tinha pelo menos três lojas de armas dentro da cidade e em seus arredores, e era legal comprar armas naquele estado. Por volta dessa época, ocorreu o tiroteio em um clube noturno em...


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O motivo para essa loja de armas, e especialmente esta, no Maine, é que no verão de 2016 eu estava em uma residência artística na cidade de Skowhegan, no Maine. A cidadezinha tinha pelo menos três lojas de armas dentro da cidade e em seus arredores, e era legal comprar armas naquele estado. Por volta dessa época, ocorreu o tiroteio em um clube noturno em Orlando e também fui obrigado a mudar meu estúdio para outro lugar, “ficar no espaço do outro”. Fui primeiro a outra loja de armas, disse que queria filmar ali e eles se mostraram abertos à ideia. Mas, então, deparei-me com a Staples Gun Shop, entrei e conversei com os dois homens que encontrei lá, Bruce e Bailey. Nossa troca foi marcada pela tensão, química, desconfiança e curiosidade, e percebi que eu devia continuar a frequentar o lugar.

“Você vai nos fazer parecer perversos?” era um receio deles quando entrei pela primeira vez naquela loja de armas. Concluí que essa era uma questão importante, pois identificava as diferenças subjetivas em jogo em nosso primeiro encontro e a possível hostilidade que poderia emergir, mas também solicitava uma trajetória diferente: você vai documentar a sua própria opinião preconceituosa sobre nós ou vai tentar conhecer e interagir conosco antes de nos retratar? Minha resposta na ocasião foi que fazê-los parecer perversos era fácil, e eu não estava interessado nisso; ao contrário, eu estava curioso a respeito da cultura das armas. Com isso, fizemos uma espécie de pacto. Então, passei algumas semanas com Bruce e Bailey, lendo, comendo e atirando e filmando; algo se forjou entre nós.

Quanto ao envolvimento social, não vejo o objetivo da obra em si, mas ela pode se dirigir ao público de ambos os extremos do espectro. Talvez se trate de uma objetividade distorcida: por um lado, o texto reforça as crenças deles, eles falam a respeito de sua intencionalidade; por outro, eles o criticam e refletem sobre uma “solução” para a distinção amigo/inimigo. Como na montagem, às vezes suas vozes são dubladas pelo texto de Schmitt, outras vezes eles dublam o mesmo texto.

Outra coisa importante é este filme, devido ao seu caráter cinematográfico e documental, fora do ambiente do cinema. Em outras versões, o filme é parte de uma instalação, triangulada com um alvo de campo de tiro perfurado por balas que eu mesmo disparei e uma escultura de espelho onde se lê, invertido: "The Enemy is the Embodiment of Your Own Question" [O inimigo é a encarnação da sua própria questão], uma citação de Schmitt. O alvo de campo de tiro, assinado e datado por Bruce, torna-se um contrato dessa permuta: eles me levaram para o estande de tiro e me ensinaram a atirar com diferentes tipos de armas, e eu pedi que eles lessem o texto de Schmitt. A inversão e o reflexo da escultura de espelho cria um emaranhado de subjetividade, simultaneamente por meio da alterização (com a inversão, o texto é legível pelo outro lado) e da expansão da própria subjetividade (os observadores veem seu reflexo na escultura).


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2016-2017 | Vídeo, 54’

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