Para mim, os documentos têm duas dimensões: uma é a informação que contêm enquanto fontes históricas e outra é sua materialidade em si mesmos, o papel ou o objeto. Esses temas têm grande potencial fenomenológico, e a relação das pessoas com o passado nessas duas dimensões é para mim um problema fundamental da arte. Minha relação com as fontes históricas é muito pessoal, e penso que os documentos podem ser usados para identificar problemas sociais no presente.
Nasci em Michoacán, estado onde se localiza a cidade de Cherán. Há alguns anos me formei na Universidade das Artes na Cidade do México e quis estudar o contexto de Michoacán, de modo que comecei meu trabalho de campo ali porque queria entender a relação entre os purépechas do tempo da invasão europeia, em 1540, e os purépechas de hoje em dia.
Eu queria entender o modo como a cultura indígena havia resistido às devastações promovidas pela cultura ocidental e como havia uma continuidade das demandas do povo de Cherán, e percebi como formas políticas muito inovadoras – que correspondem a problemas atuais como ecologia, democracia, identidade – retomam seus modos de organização ancestrais.
Penso que as formas culturais indígenas já estão com eles há muitos anos.
No contexto dos movimentos sociais dos povos originais do México, essas formas culturais são muitas vezes potenciais, e são seu capital simbólico.
No processo de autonomia de Cherán, muitas formas culturais, enquanto produções artísticas, ganharam visibilidade, mas também modos de se relacionar e de organizar o poder emergiram da cultura original. Nesse sentido, meu vídeo Interrupción del Sueño associa ideias de práticas culturais e processos sociais da autonomia indígena.
Em depoimento à PLATAFORMA:VB