Minha trajetória como artista se inicia através da pichação. Só depois comecei fazer graffiti. Esse início não se reflete necessariamente em minha produção atual, mas, sim, o convívio urbano que tenho desde esse período.
Dentre as linguagens que trabalho atualmente, entre pintura, performance, instalações, realmente a primeira está mais presente em minha produção. Cada pintura reflete muito minhas preocupações naquele momento em que as produzo. Na maioria das vezes, essas preocupações são as mesmas, mas os trabalhos se expressam de diferentes formas. Minhas obras são meu meio de comunicação com os outros, e elas discutem situações pelas quais já passei, passo, ou situações que a população negra enfrenta no cotidiano urbano.
Muitas vezes, as pinturas trazem denúncias contra o racismo, a violência policial, a mortalidade da população negra e pobre no Brasil. Mas, um dia, eu pensei que, além de denunciar, eu também tinha que tentar pôr um ponto final nisso, e me veio esse grito: JÁ BASTA! Então, comecei a costurar esses suportes, sobrepondo diversos tipos de tecidos, construindo uma espécie de estandartes de guerra – e tem que ser de guerra, pois 111 tiros disparados pela polícia contra o carro de 5 jovens negros é estado de guerra, 80 tiros disparados pela polícia contra o carro de uma família também é estado de guerra.
O olhar rude dessas pessoas que pinto nessa série, que estão claramente lutando contra os fatos presentes nas colagens de manchetes de jornal que coloco nos cantos da pintura.
O uso da hashtag (#) é um diálogo com as redes sociais, que em nosso tempo é uma ótima ferramenta de denúncia e de informação. As campanhas publicitárias usam # para vender produtos, campanhas políticas usam # para obter votos, eu uso #JÁBASTA! – título da pintura produzida para a 21ª Bienal – para propagar a ideia de que essas situações necessitam de um ponto final.