Domingo (os pequenos banhistas)

2013
Fernão Paim
publicado em 28.05.2013
última atualização 18.12.2014

"É com um sentimento de redescoberta, de ressucitação, que surgiu a série Domingo (os pequenos banhistas). São fotografias retiradas do esquecimento dos álbuns e representam um grupo de crianças em sua ida à praia, em um dia de domingo, na década de 1980. Essas mesmas fotografias são dispostas lado a lado com trechos de...


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"É com um sentimento de redescoberta, de ressucitação, que surgiu a série Domingo (os pequenos banhistas). São fotografias retiradas do esquecimento dos álbuns e representam um grupo de crianças em sua ida à praia, em um dia de domingo, na década de 1980. Essas mesmas fotografias são dispostas lado a lado com trechos de uma descrição científica de geografia e metereologia, retirados da Enciclopédia Conhecer. Muito populares no Brasil da época, os textos transmitem ao conjunto das fotografias uma espécie de cientificação da subjetividade: como se os verbetes enciclopédicos trouxessem algum tipo de explicação ou justificativa àquelas simples e singelas imagens de um passeio à praia.

Desde a concepção da obra, já tinha clara a intenção de ir além da fotografia. Não me bastava simplesmente reciclar velhas imagens, maquiá-las ou retocá-las, para dar-lhes uma nova apresentação, uma nova vida. A intenção era tratar a fotografia e o texto como objeto repositório, de tempo, de significado, de memória. Por isso é muito importante a integridade sígnica do suporte fotográfico; o pleno funcionamento das suas manchas, seus riscos e amassados, seus defeitos de exposição, o amarelado do tempo e suas marcas de manuseio.

Essas imagens servem como alegoria de mim mesmo. Do seu aspecto mais evidente e indicial – são realmente imagens da minha infância – essas fotografias formaram a minha subjetividade, ocupando os álbuns que folheava nas reuniões familiares. Do mesmo modo, a Enciclopédia Conhecer foi minha fiel companheira de explorações e descobertas, em uma etapa determinante na minha formação.    

Onde acontece a imagem fotográfica? O que ocorre com a imagem capturada para além das fronteiras do real e construída pelo olhar, mediante a intervenção do dispositivo? Uma imagem que, sob o pretexto de registrar a vida, devolve subjetividades em um reflexo sensível. O que ocorre ali? Uma aparição? Algo que era apenas imaginado, impossível de medir ou reter inicialmente, logo desaparecerá da memória, deixando apenas vestígios.

Eu, você, qualquer um, suspenso no tempo e contido no recorte da fotografia. A imagem em seus próprios ritmos é a natureza imensa, sem limites, que por um breve momento torna-se eternamente local do acontecimento, uma paisagem antes inexprimível, pequenos banhistas na praia, uma ilusão, um sonho."


Fernão Paim em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)


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Dados técnicos

Domingo (os pequenos banhistas) nº1, nº2, nº3 (2013) | Fernão Paim
Instalação fotográfica | 6 dípticos impressos em papel fotográfico acetinado e couché fosco 250 g, 20 × 20 cm cada imagem; montagem em Dibond

Detalhe da instalação Domingo (os pequenos banhistas) nº1, nº2, nº3 (2013) 

Ações VB
18º Festival
Outras conexões

Fernão Paim menciona diversos textos e ensaios sobre a natureza do ato e da imagem fotógrafica. Suas relações com o real, a memória, o tempo são discutidas em:

O ato fotográfico e outros ensaios (1994), 
de Phillippe Dubois 

A Câmara Clara: Nota sobre a fotografia (1984),
de Roland Barthes 

Estéticas tecnológicas: novos modos de sentir (2008), 
de Lúcia Santaella.

Fotografia e memória (2005), 
de Boris Kossoy. 

 

A obra Ser e tempo (1927), do filósofo alemão Martin Heidegger, também está entre as referências do artista.

No Acervo VB
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