Do meu ponto de vista, a política molda a vida pessoal. Tento escapar da tragédia coletiva recorrendo a uma tragédia pessoal e física, mas não consigo, porque está tudo conectado e, conforme você lida com a sua dor pessoal, se dá conta de que ela é parte de uma dor maior. Patriarcado, ditadura, operação, prisão são temas centrais deste trabalho, At Last, que apresento na 21a Bienal, em que traço uma narrativa não linear que conduz o espectador a uma história trágica.
Do ponto de vista da realização técnica do filme, devido ao contexto político da Síria não pude filmar na minha cidade, Damasco; por isso, utilizei arquivos pessoais para me referir ao passado ou à minha cidade. Mas é parte do meu conceito utilizar material de arquivo para falar da Síria e do passado, enquanto emprego filmagens de Beirute para falar do presente.
Nesse sentido, o tempo é um tema muito importante em meu filme: uso o presente para falar do passado, e visito o passado para falar do presente. Para mim, é um ciclo constante: o passado é presente e o presente é o passado. O tempo está passando, mas nada está acontecendo. Estou aprisionada. É por isso que não vejo um futuro, e é por isso que o futuro não está presente no meu filme.
Em depoimento à PLATAFORMA:VB