LIVRO DE COLORIR (BRASIL, 2015) E LIVRO DE COLORIR (BRASIL, 2017-2019)

2018
Marilá Dardot
publicado em 25.09.2019
última atualização 01.10.2019

Em 2016, publiquei o Livro de Colorir – Retrospectiva 2015, que reunia 48 imagens baseadas em fotos publicadas nos dois maiores jornais brasileiros e traduzidas em desenhos pela artista Estela Miazzi. Aqui, o ato de colorir, ao contrário de uma “terapia antiestresse”, provocava um enfrentamento crítico da realidade. Em 2018, colori alguns dos desenhos,...


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Em 2016, publiquei o Livro de Colorir – Retrospectiva 2015, que reunia 48 imagens baseadas em fotos publicadas nos dois maiores jornais brasileiros e traduzidas em desenhos pela artista Estela Miazzi. Aqui, o ato de colorir, ao contrário de uma “terapia antiestresse”, provocava um enfrentamento crítico da realidade. Em 2018, colori alguns dos desenhos, referentes a fatos brasileiros, usando crayon negro. Para a 21ª Bienal, atualizei o trabalho ao acrescentar fotos publicadas entre 2016 e 2019, que foram traduzidas em desenho pela artista Manuela d’Albertas.

A pequena quantidade de novas imagens, determinada pelo espaço disponível, levanta muitas questões: como eleger apenas 12 fatos desses últimos anos de tantas mudanças? Como não ser partidária em um cenário político cada vez mais polarizado? Como reviver todos esses acontecimentos em tão pouco tempo e conseguir ter distanciamento para organizar uma seleção? Confesso que foi um processo difícil e certamente falho.

 

A maneira como consumimos notícias, a lógica da informação, a velocidade, tudo isso costuma anestesiar a visão. Acredito que a arte pode ajudar na formação de uma resistência ao nos fazer repensar nossa percepção do mundo. Ao olhar de novo e colorir aquelas imagens muitas vezes esquecidas pela velocidade com que somos expostos cotidianamente às notícias, acabamos por reviver e refletir sobre aqueles acontecimentos, sobre como são tratados pela grande mídia e por nós mesmos.

Com meu trabalho, sempre quis atuar de forma a provocar uma pausa para reflexão. A grande crise política, ideológica, ética, econômica e ambiental em que vivemos nos últimos anos me fez deixar um pouco de lado o universo da literatura, muito presente no meu corpo de trabalho, seu caráter mais poético e intimista, e redirecionar minha atenção para narrativas que constituem o que chamamos de “realidade”.

Ao reapresentar aquelas imagens, talvez já esquecidas, e propor sua reinterpretação, ao estender o tempo que dedicamos a elas, Livro de Colorir tenta lançar luz não apenas sobre os fatos e como lidamos com eles, mas também sobre como se comporta a imprensa no Brasil e o quanto colabora, em doses homeopáticas, na produção de uma psicoesfera.

Em depoimento à PLATAFORMA:VB


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Dados técnicos

2018-2019 | Impressão a jato de tinta e lápis de cor, crayon e carvão sobre papel

 

Ações VB
21ª Bienal
Outras conexões

"Livros de colorir para adultos são um fenômeno recente no mercado editorial. Eles têm ocupado os primeiros lugares das listas de livros mais vendidos e locais de destaque nas livrarias e bancas de revistas. Prometem uma “arteterapia antiestresse” aos seus consumidores. Os temas dos livros evocam um mundo perfeito, bucólico, mágico, religioso ou antigo: Jardim SecretoFloresta EncantadaReino AnimalFloresta MágicaJardim dos Sonhos e Uma Noites são alguns de seus títulos.
O momento de crise política, ideológica, ética, econômica e ambiental em que vivemos pede um enfrentamento crítico da realidade, não uma fuga para um mundo ideal. O Livro de Colorir – Retrospectiva 2015 apropria-se desse fenômeno editorial e comportamental para questioná-lo. As imagens para colorir serão desenhos baseados em fotos impactantes de fatos do ano de 2015, publicadas em jornais brasileiros. Como em muitas outras obras de Marilá Dardot, este projeto requer a participação do outro para se completar. Mas aqui o ato de colorir, ao contrário de uma “terapia antiestresse”, provoca o confronto com uma realidade dura, muitas vezes trágica, que tentamos esquecer.
A obra pretende questionar como recebemos e acumulamos informações cotidianas de maneira homeopática e muitas vezes passiva, possibilitando que questionemos a própria psicoesfera que criamos e em que somos inseridos.""

Trecho retirado da página da editora ikrek

 

Kahil, S. (2011). PSICOESFERA: A MODERNIDADE PERVERSA. Revista Do Departamento De Geografia11, 217-220. 2011.

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