INSTALAÇÃO HISTÓRICA

1995
Luiz de Abreu
publicado em 25.09.2019
última atualização 01.10.2019

Minhas primeiras noções em dança foram nos terreiros de umbanda, nos anos 1960. No final dos anos 1970, começou a minha formação em dança. Nos meados dos anos 1980, dancei em diversas companhias profissionais em Belo Horizonte e em São Paulo. Nos meados dos anos 1990, comecei a construir trabalhos solo onde o corpo negro estava no centro...


Leia mais +

Minhas primeiras noções em dança foram nos terreiros de umbanda, nos anos 1960. No final dos anos 1970, começou a minha formação em dança. Nos meados dos anos 1980, dancei em diversas companhias profissionais em Belo Horizonte e em São Paulo. Nos meados dos anos 1990, comecei a construir trabalhos solo onde o corpo negro estava no centro do discurso. A partir daí minha dança, além de ser uma investigação estética, é principalmente uma ação política.

O protagonismo da presença do corpo negro na sociedade brasileira, uma questão que se encontra no centro da minha obra, desde o momento em que comecei a trabalhar até os dias atuais, pode ser separado em três períodos significativos: dos anos 1970 aos 1990, o país ainda possuía uma mentalidade colonial, onde temas como democracia racial, racismo estrutural e a própria invisibilidade do corpo negro na dança eram a tônica. Era muito comum ouvir coisas como “A minha babá é negra, mas é como se ela fosse da família”. Esse cenário se altera entre os anos de 2003 a 2016, onde uma mentalidade “descolonial” se instaura, buscando desvendar o racismo estrutural, o mito da democracia racial. Políticas como as cotas e o maior ingresso de negros na universidade possuem um papel central nisso. Porém, de 2016 para cá, aparentemente, estamos de volta na colônia, com diversos casos de sequestros de capital simbólico negro, o genocídio da população negra cada vez mais crescentes. Parece que o Brasil quer retornar à colônia, porém ele precisa saber que ela não existe mais.

Pensando nesses processos, os trabalhos de dança apresentados aqui têm o corpo negro como campo de pesquisa e como a própria obra de arte. Reuni esses vídeos inéditos para a 21ª Bienal na tentativa de fazer uma releitura dos contextos acerca do corpo negro nas últimas três décadas. Quero possibilitar um encontro entre gerações, de um artista criando desde o final dos anos 1970 com artistas negros contemporâneos. É importante vivificar a memória negra brasileira num momento de processo de apagamento da história negra brasileira.  

Em depoimento à PLATAFORMA:VB


Reduzir texto -
Dados técnicos

1995 - 2019 | Instalação com sete vídeos

Ações VB
21ª Bienal
Outras conexões

"A primeira montagem do “Samba do Crioulo Doido” foi realizada em 2004 por Luiz de Abreu, diretor e coreógrafo do projeto. Antes, era ele próprio que performava no palco. Agora, fez uma "transição" dos seus conhecimentos - como mesmo disse - para Pedro Ivo, dançarino atual do espetáculo. Para Abreu, mesmo com 13 anos de realização, o projeto continua bastante atual. “No momento político que estamos vivendo, o Samba do Crioulo Doido continua atual. Eu diria até que ele é ‘pós atual’. Ele fala de um ciclo, em relação a questões sociais e políticas, que segue, mas acaba sempre regredindo. E, então, voltamos para a tal ‘ordem e progresso” que mais parece uma ordem e progresso do século XIX”, comenta Abreu."

Trecho de matéria sobre "Samba do Criolo Doido"

Comentários