"Nos últimos anos eu tenho escrito bastante. São ensaios e ideias sobre temas variados, como sexo, cinema, pornografia, comida. Realizei pesquisas que vão da genitália ao modo como os órgãos de censura funcionam em alguns países. Por exemplo, no mercado cinematográfico dos EUA o sexo oral em mulheres é considerado...
"Nos últimos anos eu tenho escrito bastante. São ensaios e ideias sobre temas variados, como sexo, cinema, pornografia, comida. Realizei pesquisas que vão da genitália ao modo como os órgãos de censura funcionam em alguns países. Por exemplo, no mercado cinematográfico dos EUA o sexo oral em mulheres é considerado pornográfico, mas em homens não. No Japão, eles pixelizam a vagina ou o pênis, mas não o ânus.
Isso me levou a pensar que se você quer cobrir algo para não mostrá-lo, você está redesenhando aquilo em uma nova linguagem; e, na verdade, não está cobrindo nada.
Para mim, a política dos órgãos de censura é um fracasso. É como se os rostos, os gestos e os sons não importassem em se tratando de uma mente pervertida. Por isso, tive a ideia de criar uma organização extrema que encobrisse tudo, e ao mesmo tempo reconstruísse a imagem em uma nova linguagem. Mas, tal organização não seria muito boa no que faz. E é por isso que ela tem um nome dúbio: Censorship Universal Language Organization (Organização para a Censura da Linguagem Universal), cuja sigla é C.U.L.O. (bunda, cú, ânus... em espanhol).
Meu processo de criação une minhas habilidades – design gráfico, impressão e VJ – sob a forma de uma falsa 'organização de propaganda'. Essa combinação permite que eu compartilhe meu trabalho em diferentes meios – festas, eventos ou exposições – e também que venda minhas impressões por preços muito baixos. Isso permite que o trabalho circule entre as camadas populares, e não só no mundo da arte. E, para mim, é essencial que o público possa se relacionar com uma obra de arte a partir de sua própria experiência de vida.
Minhas referências vêm do cotidiano, como por exemplo o supermercado, a TV, a rua. Eu adoro design vintage e revistas pornográficas das décadas de 1960 e 70. Para criar as impressões de C.U.L.O., eu tentei imaginar um escritório dos anos 60. Decidi usar minha impressora com uma só cor, e difundir a mensagem de C.U.L.O. rapidamente. Mas, eu também sabia que C.U.L.O. precisava se diferenciar e ser notado em qualquer lugar, então optei pelo papel fluorescente.
Neste trabalho, usei uma revista de Copenhagen chamada Blue Top Sex 1 que encontrei escaneada em alta resolução na internet. Eu queria muito vê-la em versão impressa, mas as revistas desse tipo eram tão anônimas que nem mesmo os sites de pesquisa pornô possuíam informações sobre os atores e atrizes daquela época. Assim, fiquei pesquisando no Google durante meses, o que fez desse trabalho minha obra mais online em termos de pesquisa.
Quando eu estava produzindo o vídeo, o áudio e as impressões, houve a necessidade de compará-los ao objeto real, analisar as revistas, ler diferentes textos de censura e pesquisar os processos de impressão daquela época. Foi aí que finalmente encontrei Blue Top Sex 1 impressa em Berlim, por intermédio de um amigo.
Eu adoro artistas que trabalham com pesquisa histórica sobre o design e seus códigos, assim como eu faço com a pornografia, o sexo ou a comida, entre outros temas. Gosto de artistas como Peet Pienaar, um designer da Cidade do Cabo que pesquisa muito sobre épocas passadas e as mistura em seu trabalho. Ou, Dr. Alderete, um ilustrador argentino radicado no México, que usa sistemas e códigos visuais que funcionam tão bem hoje quanto há 50 anos atrás."
Federico Lamas em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)
- Dados técnicos
Censorship Universal Language Organization (2012) | Federico Lamas
Instalação | Vídeo, 4’05”, estéreo, cor, 16 : 9, loop; 7 impressões fotográficas, 33 × 48 cm cada
Depoimento Federico Lamas | 18º Festival
Perversion for Profit (1965)
- Ações VB
- 18º Festival