Procurando Jesus foi realizado quando estive em Amã, na Jordânia, em 2013, em uma residência na Fundação Darat Al Funun... fiquei lembrando da imagem do Jesus loiro e de olhos azuis que temos no Brasil e no ocidente. Estando ali, é claro que Jesus deveria ser como um daqueles homens que eu observava. Existia algo de subversivo em pensar em Jesus como alguém do povo, imaginar sua personalidade, seus trejeitos, o tom da sua voz. Assim, fotografei 20 homens com o celular na rua e instaurei uma votação aberta, em que ofereci tâmaras ao público que, com o caroço, poderia votar na próxima imagem possível de Jesus.
A partir dessa premissa, comecei a pensar nos vínculos entre o Oriente Médio e o contexto do Brasil e da América Latina; então, cheguei à conclusão de que esse projeto fala sobre julgamento e de como a estética eurocentrista é imposta, impostora e opressora. O ideal da beleza branca, loira e de olhos azuis é uma distorção que atinge tanto o Brasil, latino, como o Oriente Médio. O olhar de desejo sobre os corpos negros e mestiços ganha contornos fetichistas e, ao procurar Jesus, o olhar que busca cai nessa mesma armadilha: o que se lhe oferece é a experiência e o desconforto da ficção desse olhar.
Essa relação do olhar se manifesta no meu trabalho a partir do modo como a presença do desejo é uma ferramenta que desestabiliza a leitura das relações e suas forças, em especial quando se trata de sociedades machistas como a brasileira, latina, e a muçulmana, e também a questão do corpo masculino – muito presente em meu trabalho – nessa relação. Um olhar como esse gera uma série de desconfortos que são reveladores das forças sociais. Envolve o meu lugar de artista como mediador e tensionador de signos e o lugar do próprio público, desconfortável ou não em seu julgamento.