Chromatics é uma peça ao mesmo tempo poética e política. Poética porque é fundamentalmente feita a partir de dois poemas, criados de maneira similar às pesquisas do Oulipo, movimento literário surgido nos anos 1960, que introduziu a matemática e a aleatoriedade na criação literária. Usei um programa para...
Chromatics é uma peça ao mesmo tempo poética e política. Poética porque é fundamentalmente feita a partir de dois poemas, criados de maneira similar às pesquisas do Oulipo, movimento literário surgido nos anos 1960, que introduziu a matemática e a aleatoriedade na criação literária. Usei um programa para combinar randomicamente palavras que formassem estrofes compostas por quatro versos feitos com uma única palavra cada, sendo a primeira e a terceira palavras-verso em Move ment I , necessariamente, preto ou branco, e a segunda e a quarta palavras-verso, uma das 200 outras palavras. Em Movement II, o primeiro e o terceiro versos são, alternadamente, preto, azul, vermelho e branco. Chromatics também é uma obra política porque, além do aspecto poético, também é conceitual e pretende ser uma peça radicalmente antirracista, visando destruir as raízes conceituais, linguísticas e simbólicas do racismo.
Como artista, a experiência de estar no entroncamento de diversas diásporas está diretamente associada ao conceito fundamental de todos os meus trabalhos, que é o conceito de "contextualização", a noção de misturar elementos em um contexto particular, de modo mobilizador e polissêmico, em oposição à noção estática de estrutura.
Minha experiência pessoal é muito particular: cresci no Benin, depois vivi na França e nos Estados Unidos, e atualmente divido meu tempo entre o Benim e a França, o que faz de mim ao mesmo tempo um autóctone africano e um membro da diáspora. Quando morei em Salvador durante dois meses em 2019, graças ao prêmio de residência Goethe Institut / Videobrasil que recebi em 2017, eu me referi jocosamente a mim mesmo como um "retornado retornando".
Essa ancestralidade representou e continua representando uma grande perspectiva da minha prática: a simplicidade é uma ilusão. Os agudás, ou famílias com sobrenomes portugueses no Benim, são uma mistura de quatro comunidades diferentes: os traficantes de escravos portugueses e brasileiros; os escravizados brasileiros livres que decidiram voltar à África depois de conquistar a liberdade; os afro-brasileiros expulsos por suspeita de tomarem parte na Revolta dos Malês; e, também, não podemos esquecer, os escravizados desses diferentes grupos no Benim, que adotaram os sobrenomes de seus senhores.
em depoimento à PLATAFORMA:VB
- Dados técnicos
2017-2019 | Instalação composta de vídeo e papel
Depoimento de Emo de Medeiros para o 20º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil
- Ações VB
- 21ª Bienal