Fiz uma viagem de pesquisa à ilha Mara, personagem principal da minha obra Island, com a seguinte questão: o que vai acontecer com o menino que acabou sendo o último e único aluno remanescente na única escola da ilha? Enquanto eu estive lá, encontrei um cão sem dono e me perguntei: como ainda pode haver um vira-lata nesta ilha, tão...
Fiz uma viagem de pesquisa à ilha Mara, personagem principal da minha obra Island, com a seguinte questão: o que vai acontecer com o menino que acabou sendo o último e único aluno remanescente na única escola da ilha? Enquanto eu estive lá, encontrei um cão sem dono e me perguntei: como ainda pode haver um vira-lata nesta ilha, tão pequena que se pode atravessar em menos de uma hora? Não era possível que aquele cachorro tivesse entrado sozinho no barco. Existem apenas 40 moradores na ilha, mas, curiosamente, a maioria sabia o nome do cachorro, “Paldo”. De onde vinha aquele cachorro? Investigando o cachorro, encontrei alguns moradores da ilha: um monge embriagado que entoava canções de louvor aos juncos; uma senhora, que morava com cinco cachorrinhos, visitava uma sepultura todos os dias e ficava falando com o morto; e um policial que estava sempre de chinelos na delegacia. Meu filme, Island, pretende suscitar no público as seguintes perguntas: o que aconteceu com o cachorro, com o monge, com a senhora e com o policial; o que aconteceu com aqueles que parecem ser a presença da ”ilha” em si, no sentido da intensidade e do vazio, em contraste com o lugar?
Creio que é preciso prestar atenção à paisagem do filme, que mostra o vazio e a intensidade. Porque isso não apenas dá ênfase em ver cada personagem como a própria “ilha”, mas também como a paisagem, o ambiente, afetou a vida desses personagens vivendo isolados das multidões e das sociedades. Considero os escritos de Emmanuel Levinas e seu relato fenomenológico do encontro 'face a face' e o questionamento do ‘Ser’ na minha obra. Aplicando intuições de Levinas, este filme pretende olhar para cada personagem como a ‘Ilha’, como o ‘Ser’ que poderia nos impressionar e nos obrigar a questionar o que aconteceu com eles naquela ilha. Muito embora essa pergunta não fique claramente respondida no filme, ainda que o público não chegue nem perto de algum tipo de verdade, a dificuldade de algumas questões sobre os personagens do filme, a curiosidade e a preocupação, espero que esses elementos sejam capazes de nos levar para um lugar que Levinas chama de “o Bem” em seus escritos.
em depoimento à PLATAFORMA:VB
- Dados técnicos
2015 | VÍDEO, 29’
Excerto de "ISLAND"
- Ações VB
- 21ª Bienal