Nasci na região montanhosa do Peru, mas precisei me mudar de lá quando era muito pequena, porque era uma época em que havia começado a guerra e o terrorismo. Embora as ideias de guerra e conflito sempre estivessem presentes no meu trabalho, as ideias da minha própria identidade, em relação à identidade chola, parda e indígena eram...
Nasci na região montanhosa do Peru, mas precisei me mudar de lá quando era muito pequena, porque era uma época em que havia começado a guerra e o terrorismo. Embora as ideias de guerra e conflito sempre estivessem presentes no meu trabalho, as ideias da minha própria identidade, em relação à identidade chola, parda e indígena eram quase sempre descartadas e silenciadas, devido ao classismo e ao racismo da cidade de Lima, tão presentes ainda hoje. Assim, essa parte desconhecida da minha identidade, como pessoa de aparência indígena, fez-me pensar sobre indigenismo, alienação cultural, colonialismo e modernidade, fez-me imaginar e estimular minha prática com o desejo de propor ideias e estéticas descolonialistas, constantemente questionando a mim mesma se isso é possível ou não.
Meu interesse em imagens pré-existentes desse imaginário político se deve ao meu gosto por histórias, em como nos foram contadas histórias, e a história, através desse imaginário. Os pequenos intervalos entre o que sabemos sobre elas e o que acreditamos a partir delas, permitem espaços para a imaginação e a especulação sobre o verdadeiro significado das imagens, algo que jamais poderíamos conhecer plenamente.
Então, penso que ao reler e reaprender, podemos reformular como entendemos o passado. Também há um grande poder e uma responsabilidade no modo como podemos escrever o momento presente, e modificar e transformar a percepção de certas imagens e acontecimentos para a memória e o futuro coletivos.
A instalação que apresento na 21ª Bienal funciona como uma reunião de diferentes culturas e movimentos no tempo e no espaço, antigas e recentes, que se desenvolveram no atual território peruano. Essas diferentes culturas compartilham memórias e ideologias da vida e da morte de um modo metafórico e simbólico. Historicamente, as ideologias nasceram, forçadas e desenvolvidas nessa terra – ideias como sacrifício, modernidade, colonialismo, cristianismo, indigenismo, marxismo, comunismo etc. – todas as quais causaram derramamento de suor e sangue nessa terra. Nesse solo, cresceram e se desenvolveram os frutos que alimentam o povo. A presença espalhada das cerâmicas na instalação funciona como lembrete e sugestão do passado, incompleto e isolado, como nas formas de exposição e na memória colonial presentes nas vitrines dos museus etnográficos.
em depoimento à PLATAFORMA:VB
- Dados técnicos
2017 | Vídeo 15’17’’
- Ações VB
- 21ª Bienal
- Outras conexões
CADENA, Marisol de la, The Racial Politics of Culture and Silent Racism in Peru. 2001 [EN]