Brisas

2008
Enrique Ramírez
publicado em 22.05.2013
última atualização 18.12.2014

"O Palacio de la Moneda do Chile é um símbolo de tristeza e alegrias. Paradoxalmente, La Moneda dá as costas para a principal rua de Santiago, La Alameda. Ou seja, a entrada fica do lado de trás. Então, para cruzá-la é preciso seguir da Plaza de la Constitución em direção à Plaza de la Ciudadanía,...


Leia mais +

"O Palacio de la Moneda do Chile é um símbolo de tristeza e alegrias. Paradoxalmente, La Moneda dá as costas para a principal rua de Santiago, La Alameda. Ou seja, a entrada fica do lado de trás. Então, para cruzá-la é preciso seguir da Plaza de la Constitución em direção à Plaza de la Ciudadanía, porém, esta praça que se chama 'cidadania' está todo o tempo fechada por grades. 

Passei a atravessar todos os dias La Moneda tentando dar a volta e sair pela entrada, mas um guarda sempre me parava e me pedia com cordialidade para que eu saísse pelo outro lado. Até que um dia me pararam e perguntei: 'Qual o sentido de seguir somente em uma mesma direção?' E a pessoa que havia me pedido para continuar pelo caminho correto, disse: ‘O sentido é que não podemos voltar atrás na História’. Para mim, essa foi uma afirmação decisiva sobre meu país. O Chile não tem memória e nem interesse em construir uma.

O homem que caminha em Brisas é um homem que atravessa o Palacio de la Moneda partindo da saída em direção à entrada, ou seja, faz o caminho histórico de forma inversa, porque quer rememorar, quer voltar atrás na história.

A forma, nessa obra, é muito importante pois trata-se de um plano-sequência onde o espectador atravessa o palácio junto com o ator do filme. O tempo dramático e narrativo é o mesmo, e isso, para mim, é muito importante.

Meus trabalhos são políticos porque lidam com a memória, com a ausência, e com o aspecto humano. Me interessa fazer projetos que se conectem com a mente e o corpo do espectador.

Brisas foi concebido porque nossa história desaparece. É como a neblina esfumaçada de nossas cidades, há algo que não nos permite respirar com calma. Somos um país cinza, desde o âmago de nossa alma. Em 1836, Charles Darwin fez uma afirmação magnífica: 'Nestas terras (Chile), as pessoas não sorriem, só riem de algo ou de alguém'. Parece que esta frase foi escrita hoje. Nada mudou nessa espécie de tristeza, que não é nem a melancolia, nem a saudade brasileira. É cinza...

Minha experiência se baseia no tempo real, no interesse pelos planos-sequência, no cinema como condutor do imaginário. Quando a imagem se esgota, existe o som e a literatura, e assim sucessivamente... As palavras de Enrique Lihn, poeta chileno, explicam isso muito bem: 'É claro que o sol também entra pelos ouvidos, e isso acontece quando acreditamos que podemos escutar visões'."


Enrique Ramírez em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)


Reduzir texto -
Dados técnicos

Brisas (2008) | Enrique Ramírez
Vídeo | 13”, estéreo, cor, 16 : 9

Excerto de Brisas (2008)

Depoimento Enrique Ramírez | 18º Festival

Ramírez expõe sua concepção de memória, presente em seu trabalho, sua relação com os espaços físicos e geográficos e com as cidades

The Weeping Meadow Part 1: Eleni (2004) | Theo Angelopoulos

 

 

The Tree of Life (2011) | Terrence Malick

Trailer oficial

Ações VB
18º Festival
Outras conexões

"Tenho um grande interesse pela literatura e pelo cinema. Mas, só poderia falar de dois nomes que de alguma forma marcaram meu caminho: Raúl Ruiz e Guillermo Cifuentes. Os dois já não estão mais neste mundo. Poderia também dizer que sou um grande admirador do cinema de Theo Angelopolus e Terrence Malick."

Anexos

Jóvenes releen la historia (El Mercurio, jul. 2009) [esp]

Brisas (¿El agua lo limpiará todo?), por Christian Báez Allende (ago. 2009). [esp]

Un artista sopla la memoria (La Nación, jul. 2009) [esp] 

Comentários