"O Palacio de la Moneda do Chile é um símbolo de tristeza e alegrias. Paradoxalmente, La Moneda dá as costas para a principal rua de Santiago, La Alameda. Ou seja, a entrada fica do lado de trás. Então, para cruzá-la é preciso seguir da Plaza de la Constitución em direção à Plaza de la Ciudadanía, porém, esta praça que se chama 'cidadania' está todo o tempo fechada por grades.
Passei a atravessar todos os dias La Moneda tentando dar a volta e sair pela entrada, mas um guarda sempre me parava e me pedia com cordialidade para que eu saísse pelo outro lado. Até que um dia me pararam e perguntei: 'Qual o sentido de seguir somente em uma mesma direção?' E a pessoa que havia me pedido para continuar pelo caminho correto, disse: ‘O sentido é que não podemos voltar atrás na História’. Para mim, essa foi uma afirmação decisiva sobre meu país. O Chile não tem memória e nem interesse em construir uma.
O homem que caminha em Brisas é um homem que atravessa o Palacio de la Moneda partindo da saída em direção à entrada, ou seja, faz o caminho histórico de forma inversa, porque quer rememorar, quer voltar atrás na história.
A forma, nessa obra, é muito importante pois trata-se de um plano-sequência onde o espectador atravessa o palácio junto com o ator do filme. O tempo dramático e narrativo é o mesmo, e isso, para mim, é muito importante.
Meus trabalhos são políticos porque lidam com a memória, com a ausência, e com o aspecto humano. Me interessa fazer projetos que se conectem com a mente e o corpo do espectador.
Brisas foi concebido porque nossa história desaparece. É como a neblina esfumaçada de nossas cidades, há algo que não nos permite respirar com calma. Somos um país cinza, desde o âmago de nossa alma. Em 1836, Charles Darwin fez uma afirmação magnífica: 'Nestas terras (Chile), as pessoas não sorriem, só riem de algo ou de alguém'. Parece que esta frase foi escrita hoje. Nada mudou nessa espécie de tristeza, que não é nem a melancolia, nem a saudade brasileira. É cinza...
Minha experiência se baseia no tempo real, no interesse pelos planos-sequência, no cinema como condutor do imaginário. Quando a imagem se esgota, existe o som e a literatura, e assim sucessivamente... As palavras de Enrique Lihn, poeta chileno, explicam isso muito bem: 'É claro que o sol também entra pelos ouvidos, e isso acontece quando acreditamos que podemos escutar visões'."
Enrique Ramírez em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)