"A instalação multimídia Njanga Wata reflete o legado colonial que ainda afeta os Camarões e outros países da África Subsaariana. Eu queria mostrar a forma como entendo essa dinâmica, e toda a série é resultado desse processo.
Comecei observando o contexto e conversando tanto com pessoas comuns, quanto aquelas diretamente envolvidas no desenvolvimento desses países. Não acredito em coincidências, mas, enquanto produzia este trabalho, tive uma conversa em um local de pesca com alguns amigos e um velho pescador. Meus amigos se queixavam de trabalhar muito sem resultados concretos, enquanto o pescador culpava essa sina no nome do país – Camarões (Cameroon) – e seu legado colonial.
Njanga Wata é o equivalente em pidgin para Rio dos Camarões. [O rio foi batizado assim por exploradores portugueses no século XV, ao se aproximarem do estuário de Wouri, gerando a derivação Cameroon, em inglês.]
Embora tenha consciência de que cada indivíduo tem sua própria formação emocional e perceptiva, acho que a estrutura política do meu país, ao contrário do que a grande mídia veicula, não é tão diferente da de outros países do Hemisfério Sul. Eu busquei uma maneira sutil e poética de transcrever observações específicas e, ao mesmo tempo, deixar a obra aberta para os seres humanos de todos os lugares do mundo.
O imaginário surrealista paradoxal e o simbolismo subjetivo, presentes na maior parte da minha obra, também aparecem aqui. No entanto, diferente de outras obras, eu fui mais enigmático e isto afetou o trabalho. Vejo isso como uma dádiva e uma maldição. A escolha se baseou nas divisões linguísticas e políticas existentes hoje nos Camarões, consequência de um breve século de colonização envolvendo Alemanha, França e Inglaterra.
Eu percebo os países e regiões a partir de suas belas diferenças culturais e não sob o prisma destrutivo, competitivo e nacionalista. Njanga Wata foi um dos meus primeiros trabalhos a ter uma perspectiva patriótica baseada em explorar algo maior que uma nação. A não ser que o óbvio ou o status quo sejam reavaliados ou questionados, o ser humano não alcançará um progresso sustentável ou um estado mais harmonioso."
Em’Kal Eyongakpa em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)