Kaleta / Kaleta
A palavra “kaleta” refere-se a uma tradição inventada em Benin por afro-brasileiros que voltaram a Ouidah durante o século 19, possivelmente após a revolta dos Malês em 1835. A tradição kaleta é uma mistura única de carnaval brasileiro, halloween americano e tradições de máscaras locais, como o Zangbeto (guardiões da noite). Nascida do tráfico de escravos, kaleta é tudo, menos um lamento: é um tributo à resiliência e resistência humana, mas também à resiliência cultural, já que a tradição é transmitida pelas crianças. A kaleta é realizada por meninos jovens reunidos em pequenas bandas durante os feriados de Natal e Ano Novo. Eles vão de casa em casa, dançando e tocando instrumentos improvisados em troca de pequenas gorjetas. Os músicos nunca usam máscaras e seus instrumentos de percussão geralmente são feitos de material reutilizado (latas, garrafas, pedaços de metal etc.). Os dançarinos estão sempre mascarados e nunca falam. Eles se comunicam apenas através de gestos e só respondem individual e coletivamente pelo nome "kaleta". Kaleta/Kaleta foi exibida pela primeira vez em Paris, no Palais de Tokyo, em 2014, como uma instalação de vídeo performativa e monumental, e incorpora centenas de bits de áudio e vídeo que podem ser infinitamente recombinados, produzindo, a cada vez, diferentes peças e performances, no tempo de 133 bpm. Sua música mistura percussões tradicionais do Benin, Brasil e Cuba, dub jamaicano, música house de Chicago e afrobeat nigeriano. O filme/instanciação também foi exibido na Bienal de Marrakesh de 2016.
Kaleta/Kaleta é uma instalação performativa multidimensional que inclui vídeo, música e fotografia. É chamada de instalação performativa porque inclui a performance de três maneiras:
Em primeiro lugar, além de uma instalação de vídeo e som "simples", incita à participação do público;
Em segundo lugar, como uma banda digital de kaleta, ela gera constantemente, e de forma autônoma, performances: nunca recombinações idênticas de elementos semânticos – visuais, auditivos e gestuais;
Em terceiro lugar, torna-se um instrumento gigante para uma performance de artista onde este pode improvisar e tocar música e vídeo em tempo real.
A obra compõe um ambiente imersivo, que transforma o público dentro da instalação em elementos visuais e atores de uma encenação. Os visitantes, uma vez dentro da instalação, desempenham o papel de Persona, usando o que o psicólogo analítico C.G. Jung definiu como "máscara social", ou pode prosseguir, “e se aprofundar mais" na instalação e desempenhar o papel de kaleta, usando máscaras fornecidas como parte da instalação. Algumas telas são visíveis apenas para o kaleta (ou visitantes mascarados), tornando a instalação um local de iniciação, onde as pessoas aprendem sobre essa tradição africana "aguda" (como os descendentes de afro-brasileiros e portugueses são chamados em Benin) de Ouidah, mas também descobrem seus mistérios, criando uma experiência intensa.
Vodunaut
Os capacetes da série Vodunaut nasceram do fascínio por búzios, navegação espacial, os tempos vindouros, e esta questão: e se uma futurologia se baseasse no oráculo ifá? O ifá é um sistema de oráculo semelhante ao I-Ching chinês. É amplamente utilizado no Benim e na Nigéria, e não apenas descreve possíveis futuros, mas também como reagir a ele e utiliza, entre outras coisas, búzios. Na religião vodun de Benin, os búzios (porque vêm do Oceano Índico) estão associados ao simbolismo da viagem, trazem proteção e sorte, mas também riqueza, já que serviram de moeda no início do século 20. Feito com estas conchas misteriosas e evocativas, combinando design industrial e material orgânico, Vodunaut incorpora obras de vídeo exibidas em smartphones que amarram firmemente esta série aos códigos e semantemas de seu tempo, emulando os sonhos premonitórios dos cérebros eletrônicos, viajando entre o passado e o futuro, mostrando obras em vídeo feitas na África, América, Ásia e Europa. Eles convidam à contemplação e alimentam a mente com imaginação e curiosidade.
