"Comecei a trabalhar com arquivos em 2006, como parte de meus estudos e de minha pesquisa de doutorado sobre a fotografia orientalista nos arquivos sionistas. Três anos depois, comecei a trabalhar com imagens de arquivo como artista visual, além de escritor.
Em 2009, encontrei, sob a cama dos meus avós, uma mala cheia de sacos plásticos contendo fotografias e outros documentos da primeira metade do século 20. Eu nunca tinha visto aquele material e lembro que me perguntei por que não estavam organizados em álbuns de família, como geralmente se faz com fotos desse tipo (casamentos, batismos, fotos de Natal tiradas em estúdio, etc.). Com a permissão dos meus avós, assumi a responsabilidade de organizar as fotos em álbuns.
Tentei construir narrativas de álbuns de família convencionais e organizar as fotos de acordo com elas. Sendo eu o historiador não-oficial da família e também o neto mais velho, meus avós me deixaram mexer com esse material. Editei nossas histórias repetidas vezes, em diversas versões e possibilidades, mas não tive sucesso na simples tarefa de criar álbuns de família. Descobri o que minha avó já sabia: trata-se de uma missão impossível. Ela me deu tempo para chegar a essa conclusão sozinho e fracassar por conta própria, assim como ela fizera no passado.
Esse encontro acidental com uma mala sob a cama foi o ponto de partida para o projeto do Christian Palestinian Archive - CPA (Arquivo Cristão Palestino), que hoje é o único arquivo dedicado à diáspora dos cristãos palestinos. O CPA representou também uma virada em minha prática artística e apontou as bases para todas as minhas instalações, sejam elas compostas por uma só foto, ou uma série de 15 fotografias organizadas como um álbum de família.
O significado do termo 'scanogram' (escanograma) é, literalmente, desenhar usando um scanner. Todos os meus escanogramas possuem três camadas de escaneamento; cada camada é programada para conter um aspecto diferente do material e, em seguida, serem unidas em uma imagem só. O escanograma é a minha interpretação pessoal do material histórico do arquivo CPA. Naturalmente, o processo se baseia em um ponto de vista pessoal e o resultado difere da fotografia original. Essa técnica de escaneamento múltiplo destaca a história do documento enquanto objeto, isto é, os rasgos e imperfeições tornam-se muito aparentes, de maneira quase abstrata, e assumem um formato tridimensional em tamanho e escala. Os escanogramas são uma forma de reapresentar esses documentos e de vê-los em impressões nítidas, de alta resolução. Os escanogramas são ativados como ‘objetos’ de arte contemporânea – ou, para ser mais exato, como resultados de sua própria condição física contemporânea.
Em outras palavras, a fotografia original, enquanto objeto físico, tem história própria, e os escanogramas são tentativas de trazer essa história à superfície."
Trecho retirado de Photographs, like a sort of embodied, physical subconscious |, Mitra Abbaspour em conversa com Dor Guez, publicado como parte da exposição Dor Guez—40 Days no The Mosaic Rooms, em Londres, Abril – Maio de 2013