"Teque-teque surgiu a partir de um teste de paralaxe realizado com uma câmera antiga de 16mm. Antes de se fazer um filme são feitos diversos testes, principalmente, para conferir se que o que se vê pelo visor é o que foi registrado no negativo. Além disso, foram realizados testes de motor, onde filmei para frente e para trás, com...
"Teque-teque surgiu a partir de um teste de paralaxe realizado com uma câmera antiga de 16mm. Antes de se fazer um filme são feitos diversos testes, principalmente, para conferir se que o que se vê pelo visor é o que foi registrado no negativo. Além disso, foram realizados testes de motor, onde filmei para frente e para trás, com diversos focos e as distintas velocidades.
Ao ver o resultado no laboratório tive a ideia de cortar o filme ao ritmo irregular do canto de um teque-teque, um pequeno pássaro endêmico da Mata Atlântica, que se encontra ameaçado pelo desaparecimento de seu habitat nas mãos do homem. Ao longo de 38 segundos a imagem se vira, se inverte, fica de ponta cabeça, muda de foco, fazendo todas as combinações possíveis, como em um exercício de arte minimalista.
Teque-teque é meu primeiro trabalho com a imagem em movimento, mas anuncia muitas das características dos filmes seguintes, como a relação ‘natureza-cultura’ mesclada à uma aproximação estruturalista do meio. A intenção era permitir que o vídeo fosse apreendido como mídia física e escultural, em relação ao corpo do espectador e seu movimento pelo espaço. A experiência fenomenológica é muito importante nesse trabalho. A sua brevidade deixa o espectador em um ciclo de luz-escuridão e movimento-quietude que se repetem, modificando continuamente a percepção da obra.
Sempre tento lançar reflexões sobre um meio específico, seja ele escultura, filme, fotografia ou desenho. Mas, foi fazendo filmes que comecei a trabalhar com equipes. Gosto muito dessas colaborações, especialmente quando são feitas com pessoas de outras áreas, como cineastas, engenheiros, arquitetos, cientistas, filósofos… Nesse sentido, meu trabalho está ficando mais e mais complexo (algo que só aparecerá, talvez, daqui dois anos). Me fascina aprender outras formas de encarar os problemas, e o contato com outras disciplinas não deixa de me surpreender. A pergunta é: como nos mantemos criativos?
Qualquer um que pensar na floresta tropical vai acabar refletindo sobre questões relativas à apropriação colonial, domínio cultural, ecologia, sustentabilidade, desenvolvimento… Todas essas problemáticas se cruzam na densa malha que atravessa a floresta. Mas, nesse trabalho, há também uma narrativa socio-política que só se manifesta na natureza das formas ou dos materiais empregados.
A obra é sempre produto das fricções do contexto onde nasce, e tenta influir nelas, ainda que não as aborde diretamente, ou de forma explícita."
Daniel Steegmann--Mangrané em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)
- Dados técnicos
Teque-teque (2010) | Daniel Steegmann--Mangrané
Videoinstalação | Vídeo, 0’38”, tela vikuiti suspensa de 115 × 92 cm, som surround (4 canais), cor, 4 : 3, loop
- Ações VB
- 18º Festival
- Outras conexões
Saiba mais sobre Teque-teque no site de Daniel Steegmann.