Objetos Específicos 1 y 2

2016
Hellen Ascoli
publicado em 02.10.2017
última atualização 02.10.2017

Meu trabalho nos últimos dois anos tem se concentrado no corpo, suas extensões e relações com as coisas que o cercam (a paisagem, objetos e outros corpos) como forma de entender a identidade e o lugar. Por isso, sempre me senti atraída para os processos que envolvem o corpo. Então, quando eu comecei a trabalhar com um tear, percebi como se pela primeira...


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Meu trabalho nos últimos dois anos tem se concentrado no corpo, suas extensões e relações com as coisas que o cercam (a paisagem, objetos e outros corpos) como forma de entender a identidade e o lugar. Por isso, sempre me senti atraída para os processos que envolvem o corpo. Então, quando eu comecei a trabalhar com um tear, percebi como se pela primeira vez eu tivesse encontrado um suporte que combinasse comigo perfeitamente. Claro, aprender a usar um tear não é um processo fácil, mas é algo em que consigo me ver imersa para o resto da vida.

 

Este trabalho veio de uma exposição intitulada The Loom Made me a Weaver [O tear me transformou em uma tecelã], na qual eu explorei como as ferramentas são professoras e extensões do corpo. Minha formação é em escultura, e meu aprendizado teve muita ênfase no minimalismo e, particularmente, em Donald Judd. No entanto, apesar de admirar sua escultura e sua escrita, como uma mulher interessada em artesanato, nunca senti que conseguia penetrá-la completamente. Um dia, quando estava no processo de aprender a tecer, vi uma série de impressões feitas por ele, dividindo o retângulo em um, dois ou três painéis. Imediatamente pensei: “Judd deve ter pensado nos huipiles!” Isso para mim era engraçado no começo, dada sua própria política, mas ele estava mesmo pensando nos huipiles, ou pelo menos ele certamente estava pensando na arte pré-hispânica, tanto na cerâmica quanto nos tecidos. Então, essa peça serviu como uma transição, como uma maneira para eu penetrar nas ideias de Judd, mas com minhas próprias condições (aprendendo com ele, mas também, talvez, criticando-o) e uma fonte prática para me dar instruções para aprender a tecer. 

 

ESCALA:

Uma das características importantes que tomei de empréstimo de Judd neste trabalho foi a escala. Como mencionei antes, meu interesse no tear vem do corpo. Então, para este trabalho, peguei as gravuras de Judd e ajustei as proporções para a escala do meu corpo. Cada peça forma três painéis e cada painel é exatamente do meu tamanho (1,60 × 0,40 metros). As divisões menores entre urdiduras e tramas brancas e azuis usam as impressões de Judd como instruções, mas entendendo que o tear também possui limitações materiais.

 

MATERIAL:

É importante mencionar que acredito que as ferramentas contribuem para o modo por meio do qual nos envolvemos com o mundo. Os materiais “respondem” e nos ensinam suas limitações e usos. Ao criar essa obra, o mais importante era aprender a tecer em um tear, como ajustá-lo e me se sentir confortável respondendo às frustrações que ele me apresentava. 

 

CRÍTICA:

Embora eu tenha dito que é "engraçado" que Judd poderia estar pensando nos huipiles, eu realmente me detenho com frequência nas divisões entre arte e artesanato. Nesse caso particular, é frustrante ver como esses binários contribuem tanto para uma divisão social e corporal (Donald Judd, um homem branco, ocidental que produz “arte” e mulheres indígenas, anônimas que produzem “artesanato”).

 

Hellen Ascoli​ em depoimento a PLATAFORM:VB (Agosto 2017)


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Dados técnicos

Objetos Específicos 1 y 2​, 2016 | Objetos
Hellen Ascoli

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20º Festival
Outras conexões

Este trabalho está fortemente relacionado com Judd em termos de crítica e design, mas também com minhas leituras de Tim Ingold, que escreve sobre cultura material. Para esta exposição, fui particularmente influenciada por dois de seus textos: "Making Culture and Weaving the World" [Fazendo cultura e tecendo o mundo] e um artigo escrito conjuntamente com Mike Anusas, “Designing Enviromental Relations: From Opacity to Textility” [Criando relações ambientais: da opacidade à textilidade].

 

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