"Cuculí é o principal resultado de uma residência de três meses no Tokyo Wonder Site (Tóquio, 2010), e diversas viagens que fiz pelo Japão. O vídeo, no entanto, não foi produzido durante a residência em si e sim meses depois, enquanto eu realizava outra breve residência em uma cidade pequena da Holanda. Era uma experiência completamente oposta à de Tóquio, e o distanciamento possibilitou que eu lidasse com o Japão não como um tema, mas como um ponto de vista.
Ter estado no Japão me deixou uma marca. Foi minha primeira viagem à Ásia e, provavelmente, a primeira vez que fui a um país com uma cultura tão desconhecida para mim. Minha primeira reação foi de perplexidade. Espanto, respeito, confusão, incredulidade e muitos outros sentimentos surgiram.
Acho que esta obra demonstra uma preocupação com os códigos visuais japoneses, além de uma questão estética. De que modo as imagens desencadeiam pensamentos, quando você não conhece os códigos ou não está acostumado com eles? Assim como muitos dos meus trabalhos, Cuculí tem a ver com linguagem: a impossibilidade de se comunicar por meio de uma linguagem comum e os mistérios gerados por uma ausência de convenções.
Uma obra emblemática relacionada a este vídeo é Sans Soleil, de Chris Marker. Na verdade, a influência é tamanha que até citei parte dela em meu filme. Para mim, Sans Soleil é um daqueles filmes que você queria ter feito, e tenho certeza que ele influenciará outros dos meus trabalhos no futuro.
Em minha prática, eu tendo a não lidar com fatos, lugares, pessoas ou momentos históricos específicos. Vejo as narrativas a partir de um ponto de vista ficcional. É claro que sempre há um ponto de partida – nesse caso o Japão – mas eu faço de tudo para manter a distância. Finalmente, meus trabalhos têm mais a ver comigo, no momento presente, do que com qualquer outra coisa. Esses temas geralmente são só desculpas para falar sobre coisas que não sei falar, ou sobre coisas que nem sequer sei o que são."
Daniel Jacoby em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)