A pesquisa se baseou em nosso interesse em duas antenas de telecomunicações gigantes localizadas no interior, na região central da Colômbia. Essas antenas eram um ícone e uma referência tecnológica no país nas décadas de 1970 e 1980. Hoje, são um testemunho de uma era passada e estão quase em desuso. Elas permanecem importantes para a cidade vizinha de Chocontá pelo que representam, mas o acesso a elas é restrito e as novas gerações não as conhecem de perto, embora elas estejam presentes em sua paisagem cotidiana.
Por outro lado, visitando o centro cultural da mesma cidade, descobrimos que a Banda Sinfônica das Crianças de Chocontá pratica e ensaia lá. Quando os ouvimos tocar, pensamos: "por que não unir essas visões de mundo distintas?" A obsolescência e a ruína tecnológica, a ideia de progresso e a modernidade inacabada da Colômbia, juntamente com a nova energia das novas gerações, o talento musical e a força interpretativa. Um terceiro elemento que serviu de amálgama foi a paisagem rural chuvosa e fria do altiplano, combinada com a ideia de uma era espacial que nunca chegou ao país. Ao reunir todos esses elementos, surgiu uma poética especial, e o Centro Espacial Satelital de Colombia foi criado.
La Decanatura está interessada em expandir a ideia de arte misturando diferentes contextos e disciplinas. Estamos interessados na história empírica e cotidiana, e especialmente na história não oficial. Por outro lado, sempre desejamos um pouco de "humanidade" na arte contemporânea e, para isso, sempre nos envolvemos ou realizamos processos com pessoas "reais" e experiências "reais". A partir dessas experiências, uma mistura de conhecimento histórico, bem como desconhecimento e estranhamento diante de certas situações, surge uma poética especial, que muitas vezes é intuitiva. Em suma, acreditamos que todos esses elementos se juntaram no Centro Espacial Satelital de Colombia e, portanto, que consideramos nosso trabalho mais importante até hoje.
Nosso processo criativo sempre vem de preocupações específicas. De uma pergunta que surge ao ouvir ou ler uma história, ou quando encontramos algumas imagens ou fotografias de cenas particulares de histórias não contadas ou não oficiais, e ficamos interessados em um tópico especial. Em seguida, inicia-se nossa etapa de pesquisa, quando buscamos documentos, procuramos arquivos e depois visitamos os lugares nos quais nos interessamos. Pouco a pouco, começamos a juntar peças e encontrar pessoas. Tentamos misturar esse conhecimento, mesmo se eles não parecem compatíveis num primeiro momento.
Claramente, nossos trabalhos possuem um componente temporal importante, e o processo varia de médio a longo prazo. A pesquisa deve estabelecer uma conexão com as pessoas, procurar afinidades e tópicos comuns e desenvolver a confiança. Quando conseguimos justapor elementos históricos e simbólicos, entendemos que estamos prontos para dar o próximo passo. A peça audiovisual é alcançada tentando entender o contexto, o ambiente e a situação da filmagem. Muitas vezes incorporamos elementos que não estavam previstos, e muitas vezes solucionamos intuitivamente os problemas que surgem durante a filmagem. Acreditamos em uma magia especial que ocorre quando você filma e o que acontece se os elementos justapostos se encaixam, e isso pode estar em uma ordem diferente da habitual ou a que não estamos acostumados. A poética das imagens surge dessa estranheza em comparação com o familiar. Por fim, vem o estágio de edição e pós-produção, que normalmente fazemos no interior, longe da Internet e outros elementos que possam nos distrair. Lá, podemos nos concentrar em reler as imagens para encontrar mais elementos, através de uma edição que expanda a poética que buscamos.
La Decanatura em depoimento a PLATAFORM:VB (Agosto 2017)
