Exile Exotic

2015
publicado em 27.09.2017
última atualização 27.09.2017

Exile Exotic [Exílio Exótico] é uma obra que surge de uma experiência pessoal de ser expulsa da Rússia, da impossibilidade de minha mãe voltar para lá e das circunstâncias de sua partida estarem amarradas à infraestrutura do turismo internacional. Ambientado em um hotel na Turquia que é uma réplica do Kremlin, o filme...


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Exile Exotic [Exílio Exótico] é uma obra que surge de uma experiência pessoal de ser expulsa da Rússia, da impossibilidade de minha mãe voltar para lá e das circunstâncias de sua partida estarem amarradas à infraestrutura do turismo internacional. Ambientado em um hotel na Turquia que é uma réplica do Kremlin, o filme já é uma dupla articulação, uma dupla peregrinação — à terra natal e às circunstâncias da partida. De maneiras diversas o filme está permeado pela ideia do duplo, ou até mesmo de um duplo do duplo. O hotel Kremlin é um duplo do Kremlin, naturalmente, mas como tal também é um duplo da história da Catedral de Cristo Salvador, que foi bombardeada depois da revolução e então reconstruída nos anos 1990 com a nova mudança de regime, ele mesmo um duplo. No meio dessas duas encarnações, a catedral destruída ia ser transformada em um monumento ao comunismo que seria o edifício mais alto do mundo, mas, em vez disso, virou uma piscina gigante (veja figuras 8–15). 

 

A concepção do filme surgiu com a descoberta da existência desse hotel em Antalya, com o Kremlin às margens de uma enorme piscina aberta, pois esse local arquitetônico cristalizava inúmeras vertentes da pesquisa atual sobre a história do turismo, a liberdade de movimento, simulacros arquitetônicos e o exílio. Por meio da edição, da cinematografia, do texto e da paisagem sonora, busquei traçar as continuidades e descontinuidades entre a duplicação e o deslocamento. Um dos principais duplos do filme é o cabo de força entre lembrança e esquecimento. A reconstrução da catedral que foi destruída nos faz lembrar as raízes ortodoxas da Rússia ou apaga o século de domínio soviético? No filme, vemos soldados marchando pela Praça Vermelha na parada do Dia da Vitória em maio de 2015: todo o exército russo desfila pelo centro de Moscou todos os anos, para não nos esquecermos do poderio militar da Rússia. Esse movimento coletivo coreografado ecoa na última sequência do filme, em que a câmera repetidamente rompe a superfície da água enquanto documenta a coreografia de uma animada aula de hidroginástica. Cada elemento é oferecido junto com seu oposto, que acaba por também ser sua repetição. O filme, portanto, vem em ondas de constante repetição, apagamento e reconstrução, esquecimento e lembrança. 

 

O texto que narra o meio do filme se baseia nas conversas que tinha com minha mãe, e revela o abismo entre gerações na memória seletiva. Há ainda outra disjunção entre as legendas e o texto em russo como é narrado: as legendas não são uma tradução direta do que se ouve; ao contrário, elas mostram uma versão resumida das conversas, além de informações contextuais; a diferença entre a vida como é vivida e a história como é escrita. Elas também buscam fazer o espectador confrontar sua incapacidade de entender o texto falado, como se fosse um estrangeiro chegando em um novo lugar. A trilha sonora, de Hannah Catherine Jones, é gravada ao vivo e composta por voz, teremim e pedaleira de efeitos. Ela complica a justaposição do singular e do plural, humano e não humano: uma voz que se perde no espectro mais amplo da história, e à medida que a voz e o teremim se fundem e se tornam incapazes de distinguir, a linha entre o humano e o não humano se torna indissociavelmente turva. 

 

Sasha Litvintseva​ em depoimento a PLATAFORM:VB (junho 2017)


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Dados técnicos

Exile Exotic, 2015 | Vídeo, 14'
Sasha Litvintseva

Trailer de Exile Exotic (2015) | Sasha Litvintseva

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