Vuon Bau Xanh Tuoi (Como era verde o jardim de abóboras)

2016
publicado em 26.09.2017
última atualização 26.09.2017

A maioria dos meus filmes vem das e falam sobre minhas memórias pessoais. Nesse aspecto, seria possível dizer que é a pesquisa sobre o próprio mundo interior de alguém. Ao fazer filmes, crio um mundo diferente, que se imiscui na realidade. É por isso que sempre considero meus filmes não como ficção, mas mais como...


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A maioria dos meus filmes vem das e falam sobre minhas memórias pessoais. Nesse aspecto, seria possível dizer que é a pesquisa sobre o próprio mundo interior de alguém. Ao fazer filmes, crio um mundo diferente, que se imiscui na realidade. É por isso que sempre considero meus filmes não como ficção, mas mais como documentários.

 

How Green the Calabash Garden Was [Como era verde o jardim de abóboras] pode ser considerado meu primeiro documentário “de verdade”, com um personagem de verdade, um veterano vietnamita que lutou na guerra contra o Khmer Vermelho. O veterano, Tran Xuan Ve, é amigo do meu pai. Um dia, quando estávamos bebendo em sua fazenda, ele nos contou subitamente das cenas do genocídio que ele viu na guerra e que o afetaram tanto que ele não ousava consumir os alimentos depois. Fiquei fascinado em ouvir aquilo, e um ano depois, em 2016, retornei à sua fazenda e fiz o filme com ele, para tentar visualizar o que ele havia visto e sentido no passado.

 

Com esse filme estendi o campo da minha produção, de histórias pessoais para a história coletiva — vale dizer, memórias da guerra. Como cineasta, frequentemente questiono minha real capacidade em capturar essa questão tão elíptica da memória humana. Embora este filme toque claramente nas questões históricas, ainda tentei reduzir a distância entre o que é pessoal para mim como cineasta e o que continua presente do que já aconteceu.

 

Em conjunto, minhas imagens formam um processo de descoberta do meu eu interior em relação ao cinema, minha família e o mundo exterior. As memórias de infância formam o estofo da minha criatividade. Em termos poéticos, a ação de fazer filmes, para mim, é como a busca pelo lar perdido. Lar no sentido de abrigo das nossas lembranças.

 

Quy Minh Truong​ em depoimento a PLATAFORM:VB (junho 2017)


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Dados técnicos

Vuon Bau Xanh Tuoi, 2016 | Vídeo, 15'
Quy Minh Truong

Shoah (1985) | Claude Lanzmann

Primeira parte do documentário

Nuit et Brouillard [Noite e Neblina] (1955) | Alain Resnais

Ações VB
20º Festival
Outras conexões

Para fazer How Green the Calabash Garden Was, penso que há dois filmes que me inspiraram muito mais, que são Noite e Neblina (1956), de Alain Renais e Shoah (1985), de Claude Lanzmann.

 

Em Noite e Neblina, filmado apenas dez anos depois do fim da Segunda Guerra, Resnais pede que as gerações futuras se responsabilizem por não permitir que história caia no esquecimento. Esse pedido implica um medo na incapacidade humana de lembrar. Diz-se que o tempo cura tudo, mas curar e esquecer são duas coisas diferentes, embora as confundamos com frequência. O veterano do meu filme diz: “As lembranças dos soldados são bem interessantes. Mas há certas coisas em que não prestamos mais atenção, porque elas não se aplicam à vida de uma forma prática”.

 

Shoah me impressionou por causa da decisão do diretor em não mostrar as imagens de arquivo da Guerra — e o Holocausto em particular. O que podemos ver é puramente o que está presente no momento diante dos nossos olhos: os remanescentes dos campos de concentração, uma floresta verdejante que já foi um campo de extermínio etc. Vemos todas essas imagens ao escutar a voz dos sobreviventes contando sua história, então precisamos imaginar nossas próprias imagens e versões do passado que já estão ausentes; ao imaginar, já estamos envolvidos e, portanto, somos responsáveis por aquilo que imaginamos. A ideia de justapor imagem e voz é o que aprendi de verdade com essa obra-prima.

No Acervo VB
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