Vai e Vem é o desdobramento de um curso de cinema que dei na aldeia São Joaquim (Acre) em 2010 através do projeto Vídeo nas Aldeias. Passei um mês morando na aldeia, trabalhando com dez alunos Hunikui e Yawanawá para construir juntos cinco filmes de curta duração. Depois dessa rica experiência, tive o desejo de voltar para fazer um trabalho autoral.
Escolhi trabalhar com a forma do tríptico, usando três telas para construir uma nova forma de narração. Esse uso narrativo das três telas simultâneas trouxe uma complexidade e uma abertura que foi especialmente estimulante para meu trabalho de montagem.
Este trabalho sempre teve como norte a busca pela experiência da presença, pensando sempre que é possível ter a intuição de uma outra vida. Não buscar o realismo, transformar o exterior em interior, as pessoas, as coisas, as luzes, transformados em estados de sensibilidades. O realismo não me interessa, pois as coisas nunca são o que são — as coisas devem ser vistas, o mundo é belo quando é visto. Fazer sentir a presença por detrás do olho-câmera, não a minha presença específica, mas a de alguém ali, com suas expectativas, cansaços, tédios, admirações, deslumbre etc. Trabalhar com o instinto e o prazer. Buscar uma voz interior, que não está interessada no exotismo, mas na simplificação, está em busca do simples, em busca do tempo.
Ser, estar, observar, entrar na dança, no balanço da realidade, se deixar atravessar pelo presente, participando ativamente através das vísceras de uma câmera. O objetivo é estar presente, é o sentimento da presença, olhar uma presença compartilhada. O tempo de quem filma é o mesmo de quem está sendo filmado, de quem olha e de quem é olhado.
Louise Botkay em depoimento a PLATAFORM:VB (junho 2017)