Em pesquisa no Museu de Etnografia de Genebra, encontrei uma documentação guardada por um geólogo que apontava para um assunto que sobressaía de todo o restante dos conteúdos de seus estudos. Principalmente, o assunto me conduziu por um campo novo para meu próprio trabalho. Buscando compreender a questão que surgia a partir de um imaginário da geologia espacial, encontrei dois outros acervos fabulosos, que subsidiaram reflexões nessa direção: um arquivo de supostos avistamentos e contatos extraterrestres e uma biblioteca de ficção científica. Esses acervos foram úteis para expandir as questões referentes à ficcionalização de atividades minerais e suas matérias, tecnologias e personalidades.
A obra é um desdobramento de trabalhos sobre mineração desenvolvidos ao longo de muitos anos. Esses trabalhos se relacionam com a história, em pesquisas sobre a questão do trabalho, da economia e da memória visual da exploração mineral, buscando revelar também camadas do imaginário em torno dessa atividade. Para esta obra, estudo o mineral no campo da ficção; esse projeto traz uma mudança de perspectiva, em que não se debruça sobre o solo terrestre. O fragmento mineral é, nessa obra, constituído de invenção, com características atribuídas que, no entanto, refletem a imaginação em torno da exploração real. Se é libertador mirar os céus e especular possibilidades geográficas siderais, por outro lado a invenção reafirma desejos coloniais de exploração e domínio.
Trabalho com a construção de histórias relacionando documentos, acervos, ficcionalizando ou performando o arquivo; elementos históricos são, assim, disparadores, dispostos a interpretação. Processos de trabalho e questões pesquisadas configuram obras; tenho me utilizado da “voz” para a construção de obras, em forma de narrações com imagens projetadas conformando conferências e debates, e também com escrita e publicações. Histórias Minerais Extraordinárias utiliza esses formatos ou suportes como elementos formais e de circulação. O projeto é inédito e reúne materiais e sujeitos de três acervos na Suíça para uma narrativa sobre memória e invenção. A construção de uma história, a ser apresentada ao vivo, além da edição de um vídeo e exposição, dá início a colaborações visando a um projeto editorial.
O trabalho é construído a partir da interpretação de acervos de três personalidades/personagens. “Obra” aqui se faz por meio de uma leitura narrativa interligando referências encontradas em suas coleções, além de uma instalação com fotografias do arquivo de Billy Meier e um documentário sobre sua história. A obra percorre campos ficcionais relacionados à mineração.
Mabe Bethônico em depoimento a PLATAFORM:VB (junho 2017)