Jornais começou com um jornal que pintei de preto, depois outro jornal em que passei fita de alumínio, depois outro que pintei de branco e preto junto se misturando na hora e foi aí que percebi que eu poderia deixar partes de cor sem pintar e pintar todo o resto de branco. Assim, fui desenhando com o apagamento e construindo outras coisas; outras formas e outros significados surgiram, bem menos impositivos que o conteúdo original, bem mais longe da ideia de verdade e por isso talvez mais próximo. A tinta que uso é a mesma que se usa para pintar parede, o branco.
Pau-Bonito carrega em sua origem uma ideia de nomadismo, de trânsito, de casa que não se impõe como monumento, e sim como sinalização de presença, abrigo e ritualística. Essa obra teve início em resposta a um espaço específico e a uma situação vivenciada e contemplada em outro momento, e depois pensei em como adaptar esse mesmo desenho ao espaço do Sesc Pompeia e a uma outra situação. Para o Videobrasil, Pau-Bonito se encaixa entre o piso e as tesouras do galpão, entre uma função de escoramento pelo procedimento instalativo, e ornamental, pelo preenchimento visual.
Jornais abre a possibilidade de a pintura se tornar uma prática em minhas pesquisas artísticas. A ação de transformar algo com um gesto simples e mudar as significâncias, desvelando outros corpos que a matéria possui, é um aspecto importante desta obra.
Cristiano Lenhardt em depoimento a PLATAFORM:VB (Agosto 2017)