"Sympathy for the Devil parte de uma anedota contada por um parente e minhas próprias lembranças da Bolívia, na década de 1970. A ideia era contar o encontro diário entre um judeu polonês refugiado e seu vizinho do andar de cima, o ex-nazista Klaus Barbie (que vivia sob outra identidade), em um prédio na cidade de La Paz. Ambos os homens viviam vidas paralelas como vizinhos e como europeus exilados na Bolívia, ambos conscientes da presença do outro, encontrando-se diariamente no elevador.
A simples interação retratada neste vídeo mostra uma situação recorrente na Bolívia e na América Latina durante o período do pós-guerra, em que a região ofereceu asilo tanto a judeus perseguidos quanto a nazistas alemães.
Em relação ao restante da minha obra (que olha para momentos da história boliviana e a forma como ela interage com a história do mundo), esse trabalho é o mais pessoal. Ele observa como a história e os encontros casuais afetam a memória familiar.
Assim como o restante do meu trabalho, Sympathy for the Devil é um amálgama de referências à história do cinema e da arte, bem como à cultura popular. A canção dos Rolling Stones que empresta seu título à obra (e serve como trilha sonora), pode parecer quase um clichê se for interpretada literalmente, relacionando o ‘diabo’ diretamente a um oficial nazista. Mas ao se escutar a letra, se verá que ela cita grande parte das atrocidades cometidas na história da humanidade, desde os assassinatos dos Kennedy à Revolução Russa.
Esse trabalho faz também referência ao filme Sympathy for the Devil de Jean Luc Godard. O filme fala sobre a gravação de uma música que se torna também uma reflexão sobre democracia, liberdade e o fim de uma década turbulenta.
As figuras retratadas na maioria dos meus vídeos são significativas por terem reimaginado a paisagem boliviana na consciência popular. Ao se mencionar a palavra Bolívia em outros países, algumas pessoas a associarão à infame captura de Che Guevara, uma figura histórica muito romântica, mas ainda assim um fora-da-lei. Pode também vir à mente o filme Butch Cassidy and the Sundance Kid (1969) com Robert Redford e Paul Newman, que retrata a paisagem boliviana como limítrofe. E a Bolívia, cuja história é repleta de ditaduras militares e grandes traficantes, pode ser uma dessas figuras; uma fora-da-lei romântica e de difícil representação, com uma beleza inatingível e difícil de definir, portando reinterpretada e diluída na cultura popular.
A paisagem e o ambiente construído são os personagens principais dos meus trabalhos, assim como os elementos estruturais do vídeo. Minha obra olha para os eventos históricos que ocorreram na Bolívia e como eles se implantam em nossa memória coletiva por meio de reproduções midiáticas.
Tudo se une para contar uma história. Mas, não no sentido narrativo tradicional. A intenção é gerar a consciência de que o espectador experimenta uma construção, e que a história não é só o que está sendo registrado, mas também COMO aquilo está sendo registrado. Ao me concentrar nos lapsos narrativos que se formam quando os eventos são mediados pela tecnologia, espero que o olhar do espectador seja direcionado dos eventos retratados na tela para o movimento físico da câmera no espaço; e para o movimento em um espaço cinematográfico imaginário."
Claudia Joskowicz em depoimento à PLATAFORMA:VB (outubro 2013)