Castelo de Areia

1987
Nilo Diniz
publicado em 24.01.2017
última atualização 24.01.2017

Não houve exatamente uma pesquisa. Representantes da Associação de Mutuários de Santos me procuraram para realizar um vídeo de tipo “social”, como se dizia à época. A ideia era mobilizar os moradores de um conjunto habitacional do BNH contra a situação generalizada de deterioração da obra de suas casas, ao...


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Não houve exatamente uma pesquisa. Representantes da Associação de Mutuários de Santos me procuraram para realizar um vídeo de tipo “social”, como se dizia à época. A ideia era mobilizar os moradores de um conjunto habitacional do BNH contra a situação generalizada de deterioração da obra de suas casas, ao mesmo tempo em que serviria como documento audiovisual de denúncia e de apresentação para futura audiência com a área responsável da Caixa Econômica Federal, em Santos e Brasília. Eu coordenava uma organização não governamental ambientalista da Baixada Santista e utilizava o vídeo para denunciar e mobilizar a população em defesa do ambiente e da qualidade de vida. Para realizar esse trabalho, os moradores realizavam promoções locais, como festa do sorvete, onde apresentávamos imagens preliminares que servissem para animar a mobilização da comunidade.

 

Os trabalhos de vídeo que realizava à época eram voltados à militância socioambientalista, principalmente. Mais tarde foquei minha experiência amadora, tipo hobby, em vídeos familiares, buscando um estilo e linguagem próprios a relatos de história de vida. Tive uma experiência interessante em 1992, em Nova York, durante reunião preparatória da ONU para a Eco-92, no Rio de Janeiro, quando gravei uma reunião da Missão Brasileira da ONU, onde o ministro do meio ambiente de então, o famoso ambientalista José Lutzemberg, denunciou irregularidades no IBAMA, gerando demissões e grandes mudanças nessa área do Governo Collor, meses antes do impeachment. Uma edição rápida dessa reunião serviu como recurso de aula da ciência política na PUC-SP, naquele período.  Outra experiência significativa em parceria foi a realização do filme Aukê, um mito dos índios Krahô, realizado com Carlos Leite e exibido em cineclubes de Berlim e outras cidades da Alemanha no final dos anos 1980.

 

Gostaria de ressaltar o uso da imagem e da manifestação livre de lideranças populares e de movimentos sociais por meio do vídeo como instrumento de mobilização e de transformação, mas também de educomunicação, uma vez que vídeos e fotos, bem como o próprio processo de criação era compartilhado, servindo para reunir, informar, formar lideranças e preparar melhor as comunidades para suas lutas em favor da qualidade de vida para todos. 

 

Nilo Diniz em depoimento à PLATAFORMA:VB (Novembro 2016)


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Dados técnicos

Castelo de areia, 1987 | Vídeo, 21’
Nilo Diniz

Ações VB
05º Festival
Vídeo como dispositivo de escuta
Outras conexões

É inevitável lembrar a simplicidade criativa associada à ousadia poética do Cinema Novo. Contemporânea também era a apropriação que grupos indígenas faziam, no Brasil, do recurso e tecnologia audiovisual para avançar suas lutas em favor de demarcação de terras originais, entre outras bandeiras próprias. Documentários desse período também foram inspiradores, como o filme Corações e Mentes.

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