Não houve exatamente uma pesquisa. Representantes da Associação de Mutuários de Santos me procuraram para realizar um vídeo de tipo “social”, como se dizia à época. A ideia era mobilizar os moradores de um conjunto habitacional do BNH contra a situação generalizada de deterioração da obra de suas casas, ao mesmo tempo em que serviria como documento audiovisual de denúncia e de apresentação para futura audiência com a área responsável da Caixa Econômica Federal, em Santos e Brasília. Eu coordenava uma organização não governamental ambientalista da Baixada Santista e utilizava o vídeo para denunciar e mobilizar a população em defesa do ambiente e da qualidade de vida. Para realizar esse trabalho, os moradores realizavam promoções locais, como festa do sorvete, onde apresentávamos imagens preliminares que servissem para animar a mobilização da comunidade.
Os trabalhos de vídeo que realizava à época eram voltados à militância socioambientalista, principalmente. Mais tarde foquei minha experiência amadora, tipo hobby, em vídeos familiares, buscando um estilo e linguagem próprios a relatos de história de vida. Tive uma experiência interessante em 1992, em Nova York, durante reunião preparatória da ONU para a Eco-92, no Rio de Janeiro, quando gravei uma reunião da Missão Brasileira da ONU, onde o ministro do meio ambiente de então, o famoso ambientalista José Lutzemberg, denunciou irregularidades no IBAMA, gerando demissões e grandes mudanças nessa área do Governo Collor, meses antes do impeachment. Uma edição rápida dessa reunião serviu como recurso de aula da ciência política na PUC-SP, naquele período. Outra experiência significativa em parceria foi a realização do filme Aukê, um mito dos índios Krahô, realizado com Carlos Leite e exibido em cineclubes de Berlim e outras cidades da Alemanha no final dos anos 1980.
Gostaria de ressaltar o uso da imagem e da manifestação livre de lideranças populares e de movimentos sociais por meio do vídeo como instrumento de mobilização e de transformação, mas também de educomunicação, uma vez que vídeos e fotos, bem como o próprio processo de criação era compartilhado, servindo para reunir, informar, formar lideranças e preparar melhor as comunidades para suas lutas em favor da qualidade de vida para todos.
Nilo Diniz em depoimento à PLATAFORMA:VB (Novembro 2016)