Trilogia (Fonte 193, 475 Volver e Cruzada)

2016
Cinthia Marcelle
publicado em 20.06.2016
última atualização 24.06.2016

“Acho que comecei a me reconhecer como artista em uma residência na Cidade do Cabo, em 2003. Minhas primeiras intuições vieram do que hoje vejo como um duplo processo de deslocamento/reconhecimento. A série Capa Morada (2003) é um emblema desse momento, em que eu me misturava à cidade, me perdia e depois me achava no mundo sul-africano, ao mesmo...


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“Acho que comecei a me reconhecer como artista em uma residência na Cidade do Cabo, em 2003. Minhas primeiras intuições vieram do que hoje vejo como um duplo processo de deslocamento/reconhecimento. A série Capa Morada (2003) é um emblema desse momento, em que eu me misturava à cidade, me perdia e depois me achava no mundo sul-africano, ao mesmo tempo próximo e distante do meu. Eu, como uma mestiça brasileira, me reencontrei em meio às cores dos muros, às coisas do mercado, às pessoas da cidade. Não estando mais em meu lugar, reconheci um outro possível, que também era fruto de misturas. A minha criação surge nessa fusão com o mundo: para mim, a arte não está acima de nada, o artista não está acima de ninguém; tudo se mistura e essa impureza é que está na origem de meu processo criativo. Só podemos reinventar o mundo a partir dele mesmo — este é, aliás, o título de um dos meus últimos trabalhos, This same world over (2009).

Uma coisa que é importante no meu processo, antes de tudo, é o método, essa operação muito delicada que vamos desembolando com o tempo, em um movimento para fora e para dentro do mundo. No caos das coisas, encontro muitas de minhas proposições. No entanto, é necessário me afastar para tentar reorganizar formalmente essa desordem, o que me leva quase sempre a desenvolver algo como um novo sistema. É o que acontece nos planos aéreos da série Unus Mundus (Volta ao Mundo, 2004, e Confronto, 2005), em que a distância permite perceber uma nova dinâmica e dimensão das coisas, novos circuitos. As ideias surgem, então, em meio ao turbilhão de possibilidades da vida cotidiana, no movimento dos corpos (e aí desenvolvo toda uma pesquisa sobre o gesto), na atração por materiais de uso ordinário, em espaços intrigantes, na acumulação, na magia possível do mundo do trabalho. A organização formal implica na busca por um sentido para esse excesso vital, esculpindo-o lentamente até encontrar uma síntese possível para o desconforto original.

Minhas proposições implicam, na maioria das vezes, em um deslocamento da vida cotidiana do universo do trabalho. O engajamento de trabalhadores, especialistas, é parte fundamental do processo: trata-se de pedir a essas pessoas que realizem seus gestos cotidianos de trabalho em um outro contexto, sob novas regras, que muitas vezes são inexplicáveis para elas. A verdadeira poética talvez surja no momento em que esses participantes encontram uma possibilidade lúdica para esse gesto, numa dinâmica que pode ser emancipatória.

O extraordinário surge da repetição, como efeito da acumulação desta. Tento fazer com que a repetição não resulte no vazio e no ordinário, como na vida cotidiana do mundo do trabalho. Trata-se de inscrever essa repetição do gesto, o automatismo do trabalho, em uma nova dinâmica, em um novo sistema. O acúmulo desses gestos, desfuncionalizados, gera o extraordinário. O operador de máquina de 475 Volver (2009) repete a ação cotidiana de remover a terra, como Sísifo, em um arranjo que remete a uma ampulheta gigante ou ao símbolo de infinito. A repetição serve também como contagem do tempo, rastro, duração, tal como na montanha de papéis amassados de O Fazedor (2007).”

Depoimento editado em conjunto com a artista a partir de entrevistas publicadas em:
https://daniname.wordpress.com/2010/10/25/pipa-cinthia-marcelle/ e http://www.flashartonline.com/article/cinthia-marcelle/

(Junho, 2016)


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Dados técnicos

Fonte 193

Cinthia Marcelle | 2007, Brasil | video | 5’40’’ em loop | cor, som

Fotografia, montagem e desenho sonoro - Bruno Vasconcelos

Som direto e desenho sonoro - Pedro Aspahan

Assistência de fotografia - Bernard Belisário

Bombeiros – Primeiro Sargento Quinoca, Segundo Sargento Nascimento, Cabo Antônio de Paula Almeida, Soldado Rogério Fernandes Barbosa, Cabo Rômulo Dias Barbosa, Cabo Clesio Rodrigues Lopes.

Agradecimentos – Departamento do Corpo de Bombeiros de  Belo Horizonte, Tenente Thiago Miranda, Tenente Coronel Cleberson Pereira Santos, Major Clovis, Bienal de Lyon 2007, Jochen Volz, Bernardo Paz, Tiago Mata Machado, Wellington Luis Martins, Geraldo Magela de Paulo, Marcelo Marçal, Sara Ramo.

Apoio: Bienal de Lyon: The 00s – The History of a Decade that has not yet been named, França (2007).

Cortesia: artista e Galeria Vermelho

 

475 Volver

Cinthia Marcelle | 2009 | vídeo | 8’16’’ em loop | cor, som

Fotografia - João Dumans e Tiago Mata Machado

Som direto - Pedro Veneroso

Edição  de imagem e som - Pedro Veneroso

Stills - Pedro Veneroso

ITAMINAS

Superintendente  - Luiz Fernando Almeida

Comunicação - Ranner Amaral Maia

Engenheiro de Segurança - Alencar José do Carmo

Operador de Máquina - José Aloísio dos Santos

Encarregado de Máquina - Ronaldo Ferreira Silva

Agradecimentos - Rafael Barros, Luiz Fernando Almeida, Ranner Amaral Maia, José Aloísio dos Santos, Amaral, Alencar José do Carmo, Ronaldo Ferreira Silva, Mauro Santos.

Realização KATÁSIA FILMES

Apoio: ITAMINAS, Sprovieri Gallery

Cortesia: artista, Galeria Vermelho, Sproviery Gallery

 

Cruzada

Cinthia Marcelle | vídeo | 8’35’’ em loop | cor, som

Direção – Cinthia Marcelle e Tiago Mata Machado

Câmera  - Maurício Rezende

Steadicam - Bernard Machado

Assistente de câmera e operador de plataforma - André Machado

Produção - Clarice Lacerda

Assistente de produção - Arnaldo Fabbri, Fabrício Marotta , Laura Berbert, Hortência Abreu, Túlio Batitucci.

Operador de Patrol - Antônio Helio

Pipeiro - Walter Santos

Som direto - Daniel Quintela

Assistente de som direto - Rodrigo

Desenho sonoro - Milagros Vazquez

Edição, tratamento de imagem e finalização - Maurício Rezende

Stills - André Machado, Gabriel Batista Campos, Thássia Alves

Direção musical - Fernando Santos

Pesquisa musical - Vilson Rodrigues de Oliveira

Músicos

Prato

Celso Viana, Leandro Cruz Najar, Marcelo Ricardo dos Anjos , Wesley Silva Moura

Tarol

Herli Preira da Silva, Ricardo Patrício Pereira

Bumbo

Eli Mossat, Geraldo Rodrigues do Bom Conselho

Trompete

Claudio Starlino de Oliveira, Geraldo Manoel Pereira

Trombone

Dácio Souza, Fabiano Andrade Oliveira

Bombardino

Bruno Dutra do Amaral, Elias Antonio da Costa

Tuba

Isaque Edson Macedo, Vilson Rodrigues de Oliveira

Agradecimentos

Manoel Geraldo Pereira (Banda Carlos Gomes), José Lima Costa (Filarmônica Primeiro de Maio), Victor (INPAR), Tiago Teixeira (INPAR), Lúcio (INPAR), Tiago Mata Machado, João Dumans, Ava Miranda, Márcia Miranda, Mauro Santos, Sara Ramo, Letícia Araújo Gontijo, Diego Lacerda, Eid Ribeiro, Samira Ávila (Valores de Minas), Marina Arthuzzi (Valores de Minas), Eloá Mata (Valores de Minas), Leda Quadros (SESC), Carla Honorato (Prefeitura de Sabará), Marney, Daniel Queiroz, Elisa (Secretaria de Cultura de Minas Gerais), Árvore em Preto e Branco.

Apoio - Construtora INPAR , Valores de Minas, Escola Municipal Anísio Teixeira

Realização - Katásia Filmes

Ações VB
Trilogia
No Acervo VB
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