“Desvios, Derivas, Contornos foi feito em grande parte a partir de material ‘acumulado’. Trata-se de um vídeo que relaciona imagens a certos arquétipos da videoarte. Ao mesmo tempo, comento um estado pessoal, de desencanto com certos caminhos trilhados, influenciado também por certo vazio ou descrença no amor. As imagens vão se acumulando e,...
- Dados técnicos
Desvios, Derivas, Contornos, 2007 | Vídeo, 6’40"
Lucas Bambozzi
- Ações VB
- Acervo Videobrasil em Contexto #1
- 16º Festival
- Outras conexões
"O vídeo cita uma série de referências na ficha técnica: por exemplo, o uso de vozes da minha filha me faz pensar em vídeos de Carlos Magno, que tinham uma participação direta do filho dele; os aviões cruzando o céu em Londres me lembraram, em algum momento, um vídeo do Wagner Morales gravado na Normandia. Mesmo que essas imagens já existissem antes de conhecer o trabalho ao qual me conecto (subjetivamente, na maioria das vezes), ao utilizá-las, é produzida uma associação, que fiz questão de comentar. Assim, continuando, o uso do preto e branco no tratamento da imagem em todo o trabalho pode remeter, para alguns, a uma opção de tratamento utilizada por Carlos Nader em vários trabalhos seus. Ainda que de forma já ‘destreinada’, o fato de estar tentando andar de skate pode sugerir uma associação com o artista australiano Shaun Gladwell, exímio skatista. Produzi cenas de coisas caindo do céu, e ao articular uma narrativa pontuada por essas cenas, imaginei que estava utilizando um dispositivo de amarração, tal como descrito por Cezar Migliorin. A abordagem íntima, triste e lírica pode ter algo que vi nos trabalhos de Guillermo Cifuentes ou nas obras de Patrick De Geetere, uma influência que sempre faço questão de retomar, assim como o faço a partir de certos vídeos de Eder Santos. Ou seja, o trabalho é todo um dispositivo de articulação e explicitação dessas referências, ao mesmo tempo que comenta: seriam meras associações estéticas? Até que ponto uma coisa influencia outra? Por que se assume tão pouco entre nós a influência de um artista sobre outro (digo, muitos citam artistas consagrados, que já não estão entre nós, mas poucos citam explicitamente um artista-colega, vivo, atuante)? E assim, sucessivamente, fui buscando pontos de contato. O uso do silêncio e da música de forma dramática pode ter algo a ver com alguns trabalhos de Arthur Omar. Há trechos musicais criados pelo grupo Feitoamãos (FAQ), do qual fiz parte. O uso de ruídos às vezes reconhecíveis, de máquinas que não aparecem na cena, pode ter sido inspirado pelo grupo O Grivo. Há trechos sampleados de Godspeed You Black Emperor, mas que constituem também um comentário sobre a forma como o grupo cria narrativas sonoras. São decisões que oscilam entre o inconsciente e a determinação (supostamente consciente). Ocorreu-me, então, tornar isso uma sugestão. É por aí que o vídeo se desenvolve. Os pequenos acidentes, como um leite que cai, foram suscitados por uma cena gravada para o filme Otto (1998), feito em parceria com Cao Guimarães. As cenas mais lentas, de situações que beiram o não-acontecimento, podem ter a ver tanto com este quanto com outros realizadores. Mesmo que nenhum desses realizadores tenha ‘inventado’ tais recursos, eles se tornaram detentores de certos padrões, que acabam constituindo certo estilo, sob o ponto de vista da crítica. Ao mesmo tempo, são referências próximas, ‘assumíveis’, em diálogo possível, mesmo que esse diálogo não ocorra da forma produtiva, como poderia ocorrer [em tempo: a PLATAFORMA:VB, para a qual foi solicitado este depoimento, pode cumprir bastante essa função de interconexão entre obras, autores e influências].”
Texto "Do invisível ao redor: o que se vê e o que não é aparente", de Lucas Bambozzi